Paulinho é mais um executado de um extermínio que parece não ter fim |
Heliópolis - Bahia, quarta-feira,
09 de abril de 2014, um carro para em frente a um bar na rua Salustiano Leitão
Guerra, na saída para o povoado Raspador. Não encontrando quem queria, o grupo sai procurando até encontrar, numa lanchonete na rua mangabeira, Paulo Henrique Alves, de 16 anos, conhecido por Paulinho. O rapaz é retirado da lanchonete e
levado à força. Os raptores não usavam máscaras em plena luz do dia e aparentavam
não ter medo algum. Quem viu tudo não quer se pronunciar. Na verdade, se
perguntar, ninguém viu ou ouviu nada. Algumas horas depois, o corpo do jovem
Paulinho, estudante do colégio Waldir Pires, e detentor de uma longa ficha de
roubos, é encontrado morto num barranco da rodovia que liga Poço Verde, em
Sergipe, ao município de Simão Dias, no mesmo estado. Perdoem-nos os leitores
com as parcas informações. Ainda estamos investigando os dados do fato.
A cena descrita é mais uma em
meio a tantas que aterrorizam Poço Verde, em Sergipe, Heliópolis, na Bahia, e
municípios vizinhos, há dois anos. Não se trata de brigas de grupos rivais
disputando o espaço para o tráfico de drogas. Também não é queima de arquivo ou
só mais uma vítima para a estatística da violência que assola o país. O que
aconteceu com Paulinho é o retrato da barbárie que tomou conta de nossa região.
Cansados de não ter uma Justiça atuante e eficiente, um grupo resolveu tomá-la
nas próprias mãos e está exterminando jovens envolvidos em roubos e vários
outros crimes. O objetivo é acabar com os meliantes e limpar a região de todo o
tipo de malandro. Estas pessoas tomaram para si o direito de determinar quem
deve morrer e conta, tudo leva a crer, com a ajuda dos poderes constituídos.
Pelo menos é isso que revela o silêncio em torno desse massacre. Se o Poder se cala,
consente.
Não estou aqui querendo defender
o assassinado com um tiro de arma calibre 12 nos olhos. Todos sabemos que ele
não era nenhum santo. Falam até que roubou uma farmácia em Poço Verde. Mas para
que gastamos fortunas orçamentárias com juízes, delegados, policiais, peritos,
carcereiros, detetives, investigadores e o escambau? Se é para nós mesmos julgarmos
quem deve morrer por roubar a sociedade, economizaríamos uma fortuna
exterminando ladrões e assassinos. Um juiz custa 26 mil de salários por mês.
Com esse valor, dá para eliminar uma meia dúzia de fora-da-lei. Já teríamos
eliminado os caras do mensalão, aquele deputado de Rondônia, o juiz que fraudou
a previdência, dentre tantos outros, e estariam na mira o vice-presidente da Câmara
dos Deputados, os corruptos e corruptores do metrô paulista, os compradores de
refinarias e propineiros da Petrobrás. E olhem que eu nem mesmo coloquei na
lista os prefeitos corruptos e os desviadores de verbas nas licitações fajutas
que acontecem neste país de meu Deus.
Mantemos um estado republicano a
um custo elevadíssimo para que a Lei e a Ordem nos encaminhem para o progresso. Se
há falhas, e são muitas, reformulam-se as Leis, demitem-se os agentes públicos
ineficientes. O que não se pode é voltarmos ao tempo dos coronéis, dos mandantes
de assassinatos, dos capitães-do-mato, dos senhores das terras, dos
cangaceiros. Será que já estamos no tempo da medievalidade, vivendo num cenário
de injustiças? Sim, injustiças. É verdade que há muito apoio a esta ação
bárbara. Há pessoas que até vibram quando um meliante é assassinado, mas há
também muito medo. Está claro que só os ladrões miseráveis estão sendo
assassinados. A coisa seria diferente se já tivessem assassinado o filho de um
mangangão? Claro que sim. Enquanto forem os pobres que estão sendo
exterminados, farão vistas grossas. Quem está sendo morto é o ladrão de
galinha, de lojas e de farmácias. É o traficantezinho de droga, a mula ou o
consumidor viciado que precisa roubar para pagar a dívida. O ladrão da merenda
escolar, da verba da educação, da verba da saúde está a salvo. Matam os ladrões
pequenos e chamam os grandes ladrões de “meu senhor”!
Está na hora de parar com essa
matança. Está na hora de o estado assumir suas responsabilidades e tomar nas mãos
o dever de dar plena segurança aos nossos munícipes. Calar-se diante desta
matança é admitir que não há um estado e que os poderes são puro teatro.
Permitir que um grupo faça leis com as próprias mãos é aceitar a barbárie e
nela não há espaço para o estado, para a religião, para a ética, para o que é
plenamente humano. Se este extermínio continuar, é melhor rasgar a Constituição
e todos nós nos armarmos até os dentes e esperarmos pelo pior. Chega de
extermínio!