Perfis falsos sobre candidatos
são criados e turbinados por artimanhas; Ministério Público cria até
força-tarefa para vasculhar redes sociais
Pedro Venceslau, Mateus Coutinho
e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo
Perfil falso na Internet revela personalidade antidemocrática e fascista |
Enquanto o Ministério Público se
organiza nos Estados para monitorar as redes sociais dos pré-candidatos,
políticos descobrem um mercado negro virtual que ameaça criar uma guerrilha subterrânea
nas campanhas deste ano. Diariamente surgem no Twitter, Facebook e Instagram
perfis falsos que são usados para atacar adversários ou fazer propaganda
antecipada, o que é vetado pela Justiça Eleitoral.
Quem navega pelo Facebook, por
exemplo, encontra pelo menos 20 páginas diferentes com o nome Aécio Neves, mais
de 50 com Dilma Rousseff e outra dezena com Eduardo Campos. Nessa conta estão
incluídos perfis positivos e negativos, sendo alguns bastante agressivos. No
YouTube estão publicados centenas de vídeos sobre o trio presidenciável, sendo
que em muitos é impossível identificar o autor.
"A internet é um poderoso
veículo de comunicação, mas está servindo também para a propagação de atos
ilícitos", afirma o procurador regional eleitoral do Rio de Janeiro, Paulo
Roberto Bérenger. Ele comanda uma força-tarefa, criada na semana passada, para
vasculhar sites de políticos em busca de perfis falsos ou anônimos.
Apesar de a criação de perfis nas
redes ser relativamente simples, dar credibilidade a eles e mantê-los no ar é
um processo que exige investimento. Programadores e hackers ouvidos pelo Estado
sob condição de anonimato fizeram demonstrações de como é fácil criar um perfil
falso no Twitter ou no Facebook e depois acrescentar centenas de milhares de
seguidores da noite para o dia, simular visualizações no YouTube e adquirir
softwares para despistar o IP (número de registro do computador na rede, o que
dificulta o rastreamento dos usuários).
Cardápio. Sites como
boostlikes.com e authenticlikes.com cobram US$ 550 (R$ 1,2 mil) por um pacote
de 50 mil curtidas. Já o sansexpand.com cobra US$ 90 (R$ 2o3) por 100
comentários no Facebook. O usuário envia 100 pequenos textos em português e
indica onde eles devem ser postados.
Já o site soft-news.net oferece
por US$ 150 (R$ 339) um software chamado blogcomentposter. Ele é usado para
criar uma avalanche de comentários em portais e blogs. O objetivo é influenciar
as "buscas relacionadas" do Google e ligar o nome de alguém a alguma
coisa.
"Esse tipo de ferramenta
está sendo usada, por exemplo, para que o Google conecte a palavra Aécio a
termos como ‘desvio’ e ‘drogas’ na busca relacionada. Nossos levantamentos
mostram que os comentários ligando Aécio a essas palavras são muito parecidos,
embora estejam postados em vários lugares diferentes", diz o publicitário
mineiro Pedro Guadalupe, dono da agência Statis. Especializada em marketing
digital, a agência presta consultoria para a equipe do provável candidato do
PSDB à Presidência. Com base nesse argumento, advogados do tucano entraram na
Justiça para pedir a remoção de diversos links e perfis em sites de buscas e
redes sociais da internet.
Eficácia. "Alguns candidatos
parecem mesmo estar usando robôs e comprando ‘likes’. Essa é uma tática eficaz
para ampliar rapidamente o número de seguidores e está disseminada em todas as
correntes políticas", avalia o sociólogo Sérgio Amadeu, pesquisador de
redes sociais da Universidade Federal do ABC e responsável pela análise de
redes sociais das campanhas dos petistas Fernando Haddad para prefeito em 2012
e Aloizio Mercadante para governador em 2010. Ele diz que essas táticas, já utilizadas
no mercado publicitário, seduzem os políticos, mas não são eficazes. "Eles
apostam que os internautas se impressionam com um número grande de seguidores.
Mas a longo prazo isso não funciona."
Para se "blindar"
contra ataques nas redes sociais, petistas e tucanos estão montando núcleos de
"ativistas virtuais". Entre os dias 18 e 20 de abril, o PT realizará
um evento no interior de São Paulo para treinar seus militantes a atuar no
ambiente virtual. Na mesma linha, os tucanos estão buscando "voluntários"
ativistas virtuais em todo o País para aprender a como agir nas redes sociais. Os
dois lados se acusam mutuamente de disseminar conteúdo negativo contra os
adversários na internet, mas negam que responderão da mesma forma.
Regras. O Twitter informou que
não monitora nem edita conteúdo dos usuários, desde que respeitem os termos do
serviço. Dentre eles estão proibições de várias práticas, como a criação de
contas em série, criação de contas com o objetivo de vendê-las, criação de
contas para envio de conteúdo abusivo a outros usuários, envio de spams e publicação
de mensagens repetidas. O Google disse que remove de seus sites conteúdo ilegal
ou que viole termos de uso da empresa. O Facebook não se manifestou.
Jogo sujo na rede
Compra de likes
É possível comprar pacotes de
"likes" ou "curtidas" do Facebook em sites especializados.
Cada 50 mil curtidas pode sair a um custo de US$ 550
Compra de seguidores
No microblog Twitter, os preços
podem ficar mais em conta: é possível "comprar" um pacote de 500
seguidores por US$ 15
Compra de visualizações
No YouTube, 50 mil visualizações
feitas por robôs custam US$ 80 dólares
Compra de comentários em blogs
Por US$ 150 dólares, é possível
adquirir um software que automatiza o processo de produção de comentários. Isso
contribui para a manipulação de sites de busca
Camuflar IP
É possível baixar de graça um
programa que camufla o IP (o registro do usuário do computador). Dessa forma, o
usuário jamais será rastreado
Perfil falso
É fácil criar um perfil falso no
Facebook ou no Instagram para fazer propaganda antecipada ou atacar
adversários. Em caso de condenação pelo TSE, o "dono" dá pagina
jamais será localizado. E o partido pode alegar que não sabia da iniciativa
Black Hat
Técnica utilizada para enganar
mecanismos de busca. Entre elas está o Link Farm, que cria milhares de sites
falsos que publicam uma notícia específica para potencializar um tema ou
hashtag nas buscas no Google