Caixa de lotérica no Cabula
aposta alto por causa do Bahia e se dá mal. Isso é que dá colocar a reputação
em risco por causa do time. Raimundo do Rosário apostou alto e se deu mal. Foi
trabalhar de ‘Raimunda’ por causa do Bahia.
Alexandre Lyrio – do CORREIO
Raimundo teve de trabalhar ontem vestido de mulher.
Ele apostou com o colega rubro-negro Antônio Carlos que o Bahia seria campeão. Perdeu feio.
(foto: Evandro Veiga)
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Talvez confiando na experiência
de caixa de lotérica, Raimundo Almeida do Rosário, 52 anos, apostou alto
demais. Não tinha a pretensão de acertar as dezenas da Quina, Mega, ou os jogos
da Loteria Esportiva. Bahia na cabeça, apostou a própria reputação. E, como se
vê na foto acima, se deu mal. Foi antes do time levar de 7 em plena Fonte Nova.
Se o tricolor conquistasse o título do Baianão, ele obrigaria o colega
rubro-negro Antônio Carlos de Jesus, 35, a se vestir de azul, vermelho e branco
o dia inteiro. Acontece que Antônio também é caixa da mesma lotérica. E, pelo
visto, aprendeu a apostar melhor. Se o Bahia fosse vice, Raimundo deveria
trabalhar com roupa de mulher. O vestidinho preto, emprestado por uma colega, e
a peruca, do salão de beleza ao lado, pareciam feitos sob medida. A cada
gracinha disparada por um cliente, o amigo campeão largava a chacota. “Vice,
Bahia! Quem mandou apostar em Sardinha”. Na lida diária com as apostas, o
rubro-negro não aprendeu apenas a dar troco. Sorriso de orelha a orelha,
calcula bem os títulos do seu time e os vices do rival. “Essa história de o
Vitória ser vice é passado. Basta pegar os últimos anos e você vai ver que o
Bahia tem mais vices”. De certa forma, ele está certo. Pelo menos quando se
trata de confrontos diretos em decisões. Com o título, o Vitória ganhou pela
17ª vez uma final contra o Bahia. Já o rival venceu em 15 oportunidades. Duas a
menos na história. “Tá vendo aí. Todo
castigo para vice é pouco”, atacou, sem dó, Antônio. Raimundo ainda tentou
retrucar. “Não acredito nessa contagem. E, se for verdade, a gente pode dizer
que até nisso o Vitória é vice, né?”, brincou, sem parar de ouvir as piadinhas.
“Rapaz, já me deram várias cantadas hoje aqui. Me chamaram para jantar,
deixaram bilhetinho com telefone e tudo”, disse, contrariado. Funcionários há
12 anos de uma lotérica na rua Silveira Martins, no Cabula, Antônio e Raimundo
já apostaram dinheiro e almoços. Foi a primeira vez que a reputação entrou em
jogo. Se bem que não há vergonha alguma em se vestir de mulher. Após os
humilhantes 5x1 e 7x3, constrangimento mesmo é usar a camisa do Bahia. Tanto
que, nas ruas, foi difícil flagrar um tricolor a caráter. Um dos poucos que
encontramos tinha a chacota no próprio nome. O gerente comercial Vitório da
Silva, 53 anos, não fez aposta para ‘mudar’ de sexo. Está quase é mudando de
nome. “Meu pai botou meu nome errado. Vou dar um jeito de mudar”.