Por Evilásio Júnior e Rodrigo Aguiar
O governador foi vaiado no cortejo do 2 de Julho (foto: Max Haack) |
A empresa dirigida pelo professor baiano Jorge Portugal já
acumula cerca de R$ 6,8 milhões em contratos com o governo da Bahia nos últimos
quatro anos, todos eles com dispensa ou inexigibilidade de licitação. De acordo
com reportagem do A Tarde, os contratos entre a Abais Conteúdos Educativos e
Produção Cultural foram firmados com o Instituto de Radiodifusão Educativa da
Bahia (Irdeb), para realização dos programas televisivos “Tô Sabendo” e “É Bom
Saber”, além da Secretaria de Educação do Estado (SEC). O último contrato
firmado, orçado em R$ 1,6 milhão, visa a organização de 384 aulões
preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Cada aulão terá o
valor do salário básico mensal de dois professores de nível superior. Portanto,
os aulões equivalem aos salários de mais de 750 profissionais por um mês de
trabalho. O caráter emergencial da contratação despertou críticas de deputados
de oposição e de sindicalistas ligados ao movimento grevista dos professores da
Rede Estadual de Ensino. Portugal alega que os questionamentos são infundados.
“Estou sendo bombardeado por um sensacionalismo moralista. Este projeto é sonho
dourado de qualquer aluno da rede pública ou particular, pois reúne professores
dos melhores colégios e cursinhos”, justificou. Em nota encaminhada ao diário
baiano, a SEC informou que o contrato emergencial foi assinado para “minimizar
os prejuízos causados pela paralisação" e os requisitos para a escolha da
empresa do educador foram a “capacidade técnica, pedagógica e de
infraestrutura” da companhia. Os eventos devem envolver cerca de 100 docentes,
além de uma infraestrutura de serviço de sonorização, palco, iluminação e
filmagem dos eventos para veiculação na internet.
Vaias acadêmicas
Jorge Portugal e seus sulões milionários |
No cortejo do Dois de Julho, em Salvador, recebido com
muitas vaias, o governador Jaques Wagner conversou com a imprensa rapidamente
na manhã desta segunda-feira antes da saída do cortejo do Dois de Julho, na
Lapinha. Durante sua fala, o petista destacou a importância da data para a
democracia. “Essa é a data maior. Corresponde ao espírito baiano de liberdade,
de não convivência com nenhum tipo de autoritarismo, de ditadura. Essa é a cara
da Bahia. O que vale é colocar cada vez mais alto a data do 2 de julho,
enaltecendo a liberdade e a democracia”, disse Wagner, cercado por assessores e
secretários que aplaudem as palavras do governador em uma tentativa de abafar
as vaias. O vice-governador Otto Alencar (PSD) é um dos presentes. Em
entrevista ao Bahia Notícias, ele disse desconhecer qualquer pedido do governo
para que a saída do cortejo fosse antecipada. “Não sei se ele [Wagner] pediu.
Cheguei mais cedo porque é um hábito que tenho desde a faculdade, por causa de
um professor. Sou cedeiro”, afirmou Otto, que ainda se definiu como “tirador de
leite”. “É o que dizem no interior de quem chega cedo”, declarou.
Em meio ao tumulto e empurra-empurra, o governador Jaques
Wagner disse, logo depois da saída do cortejo do Dois de Julho na manhã desta
segunda-feira, que a greve dos professores estaduais tem adquirido um “contorno
político”. “Já disse que, se a briga é comigo, deem aula e façam campanha
contra, mas não maltratem os meninos”, declarou o governador. Questionado pelo
Bahia Notícias sobre a contratação da empresa de Jorge Portugal por R$ 1,6
milhão para dar aulões – medida bastante criticada por docentes – Wagner
elogiou o professor. “Jorge Portugal é conhecido nacionalmente pela excelência
dos seus programas e é claro que eu não quero deixar os alunos do 3º ano
perderem o vestibular. Na verdade, a contratação é por um programa grande.
Então, nós estamos lançando mão de algumas alternativas emergenciais. Se eles
[professores] voltarem a dar aula, não preciso contratar Jorge Portugal”,
afirmou.
Ainda no cortejo, um
homem tentou invadir o cordão de isolamento que protege o governador Jaques
Wagner (PT), logo após a saída do cortejo no Largo da Lapinha, no início da
manhã desta segunda-feira (2), e arremessou um mastro de uma faixa contra o
líder baiano. O objeto acertou a cabeça do governador, mas sem gravidades. O
chefe do Executivo baiano é cercado por três cordões compostos por seguranças e
policiais militares. Mesmo com todo o esquema, o agressor conseguiu se
aproximar do petista. Ele foi preso pela PM. Além dos protestos, com tentativa
de agressão e até uso de bombas juninas próximo à sua comitiva, Wagner caminha
sob forte vaias e protestos de manifestantes e de participantes presentes nas
comemorações à independência da Bahia. O cortejo seguiu até o Terreiro de Jesus
e finalizou na Praça Municipal. O governador não fez todo o trajeto, por
questões de segurança.
Informações do Bahia Notícias.