25% de concursos para docentes em federais de SP não têm
aprovados
FÁBIO TAKAHASHI – da Folha de São Paulo
Protesto dos alunos das universidades Federais na avenida Paulista na região central de São Paulo (foto: Adriano Vizoni/Folhapress) |
A estabilidade do emprego e a remuneração para fazer
pesquisa não têm sido suficientes para seduzir professores para as universidades
federais em São Paulo. Levantamento feito pela Folha com base nos concursos
para docentes em 2011 e neste ano mostra que 1 em cada 4 processos foram
finalizados sem nenhum aprovado. Esses 59 concursos terminaram
"vazios" por duas razões: ou não houve inscritos ou os candidatos não
atingiram o patamar exigido em quesitos como prova escrita, análise de
currículo e simulação de aula. Faltaram aprovados para seleções de diversas
áreas, como psicologia, engenharia, saúde, ensino e economia. Como comparação,
a reportagem contabilizou na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) 1% de
concursos "vazios" no período. Os docentes da rede federal afirmam
que a falta de atratividade é reflexo dos baixos salários e de uma carreira
ruim. A categoria está em greve nacional há um mês e meio, com adesão de 95%
das escolas, segundo a organização. O governo não tem balanço. O salário
inicial para um professor com doutorado, em dedicação exclusiva, é de R$ 7.627
na rede federal. Na USP, Unesp e Unicamp (todas estaduais), um docente em posto
similar ganha R$ 1.100 a mais, além de ter dispositivos que aceleram os
aumentos (como quinquênios). Reitores das federais reconhecem que as condições
a seus professores não são as ideais, mas dizem que os cursos ficam
"vazios" devido à escassez de doutores no país. O Ministério da
Educação faz avaliação semelhante. A rede federal precisa contratar porque está
em forte expansão no Estado. As matrículas praticamente dobraram entre 2007 e
2010.
TURMAS A MENOS
A instituição com mais dificuldades para atrair professores
é a UFABC (Federal do ABC): em 35% dos concursos não houve aprovados. Representante
dos estudantes da UFABC, Josiane de Oliveira diz que a ausência de docentes faz
com que não haja vaga para todos os alunos em algumas matérias. A situação,
afirma, pode atrasar a formatura dos estudantes, que precisam esperar os
próximos períodos até aparecerem postos livres. "Com esse salário e
carreira, quem quer ser professor em federal?", diz a presidente do
sindicato docente da Unifesp (Federal de São Paulo), Virgínia Junqueira. Segundo
ela, no campus de São José dos Campos, como falta professor, uma disciplina que
seria dada em três turmas de 40 alunos é dada em uma turma com 120. A reitoria
diz que desconhece essa situação.
Falta de doutores é causa de concursos sem aprovados, diz
MEC
O Ministério da Educação e as reitorias da UFABC e da
Unifesp afirmam que a principal explicação para os concursos sem candidatos aprovados
é a falta de doutores. As universidades reconhecem, porém, que salário e
carreira dos seus professores prejudicam a contratação. Secretário do Ensino
Superior do governo Dilma, Amaro Lins afirma que a demanda de professores por
conta da expansão da rede federal está superior à capacidade de formação de
doutores. Em geral, as escolas buscam profissionais com esse título porque eles
estão prontos para fazer pesquisa, além de lecionar na graduação. "Teremos
uma grande mudança nos próximos cinco anos", afirma Lins, sobre a
dificuldade de contratação. Ele diz que a situação melhorará assim que os novos
campi começarem a formar doutores. Sobre a situação mais favorável dos
concursos na Unicamp, Lins diz que, como "UFABC e Unifesp estão sendo
formadas agora, o doutor vai ter de por a mão na massa", o que pode
afastar interessados. Ele não quis comentar a situação salarial e de carreira
dos professores federais.
SELEÇÃO RÍGIDA
Reitor da UFABC, Helio Waldman diz que há concursos vazios
na escola porque a seleção é muito rígida e ela tem contratado muitos
professores (cerca de 500 desde 2006, quando a universidade começou). "Mas
também influencia o mercado aquecido, principalmente na engenharia, onde os
salários acadêmicos não são atrativos", afirma. "Considero a Unifesp
atrativa, pois é um centro de excelência", diz o pró-reitor de graduação
da Federal de São Paulo, Miguel Jorge. "Mas, em algumas áreas, o salário e
a carreira podem ser impeditivos. Em outras, não há doutores disponíveis."
A UFSCar (Federal de São Carlos) disse que não conseguiria analisar os dados
até a conclusão da edição.
Universidades estaduais pagam mais que federais
O salário inicial de um professor de universidade federal
com doutorado é menor que o dos colegas das maiores instituições estaduais do
país. A reportagem pesquisou quanto ganha um docente iniciante, com dedicação
exclusiva (integral), na maior instituição estadual de cada região do país. Nas
federais, o salário é de R$ 7.627 (a carreira é a mesma no país todo). O valor
só é maior que os vencimentos dos docentes da Universidade Estadual de Londrina
(a maior do Sul), que são de R$ 7.451. Entre essas estaduais analisadas, o
maior salário é o da USP (R$ 8.715). Um dirigente que negocia salários por
parte dos reitores disse reservadamente que reconhece que os vencimentos e a
carreira dos professores devem ser melhorados. Ele afirmou que há perda de
professores para instituições estaduais, mas que as saídas são principalmente
para empresas privadas e outros postos públicos. Um analista de finanças
iniciante na Controladoria Geral da União, por exemplo, pode ganhar R$ 12.960
ao mês. Um docente de universidade federal, em final de carreira, recebe R$
12.225.
DISPUTA
O secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação,
Amaro Lins, afirma que, apesar dos valores inferiores aos das escolas
estaduais, há migração de docentes destas instituições para os novos campi das
federais. "As federais em geral têm condições melhores de pesquisa. A
exceção é São Paulo, que possui um sistema universitário consolidado."
COMPOSIÇÃO SALARIAL
No modelo reivindicado pelo Andes (sindicato docente), os
salários praticamente dobram. Além disso, seria alterada a composição salarial.
Hoje, metade do valor recebido provém de uma gratificação. O pedido é que seja
tudo integrado ao vencimento básico, o que dá mais segurança a futuros
reajustes. O governo não divulgou data para negociação. O ministro da Educação,
Aloizio Mercadante, já sinalizou publicamente ser preciso equilibrar a melhoria
da rede com as limitações orçamentárias, principalmente num momento de crise na
Europa.