GABRIELA GUERREIRO – de A FOLHA
DE SÃO PAULO
Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) |
A cúpula do DEM vai pedir ao
senador Demóstenes Torres (DEM-GO) que saia do partido antes da abertura de um
processo de expulsão. Integrantes do partido em Goiás foram escalados para
procurar Demóstenes até segunda-feira e aconselhá-lo a deixar a legenda por
conta própria, segundo a Folha apurou. Os novos documentos e gravações
envolvendo o nome do senador e o empresário Carlinhos Cachoeira estão sendo
considerados gravíssimos pela cúpula do DEM. Os membros da legenda conversaram
nesta manhã e concluíram que a permanência do senador nos quadros da legenda
ficou insustentável. Publicamente, o partido evita adotar o discurso, mas nos
bastidores já trabalha pela saída do senador. A pressão maior pela saída de
Demóstenes parte da bancada do DEM na Câmara dos Deputados. Ontem, um grupo de
deputados chegou a convocar reunião da Executiva Nacional para discutir o caso
na terça, mas o presidente da legenda, senador José Agripino (RN), decidiu
cancelar. A ideia de sugerir a Demóstenes a desfiliação por conta própria é
evitar o desgaste de um processo de expulsão, que dependeria da ação de um
filiado pedindo a abertura deste tipo de procedimento. A desfiliação partindo
de Demóstenes seria um enredo parecido ao do ex-governador do Distrito Federal
José Roberto Arruda, que pediu para deixar o partido antes de ser expulso
durante o escândalo de corrupção no Distrito Federal.
SUSPEITAS
De acordo com escutas
divulgadas nesta sexta-feira (30) pelo jornal "O Globo", o senador
acertou com o empresário ajuda em processo judicial e em projeto de legalização
de jogos de azar em tramitação no Congresso. Cachoeira foi preso no dia 29 de
fevereiro durante a Operação Monte Carlo, que investiga uma quadrilha que
explorava jogos caça-níqueis em Goiás. Nas gravações, Demóstenes também fala
com Cachoeira de negócios com a Infraero na época que ele era relator da CPI do
Apagão Aéreo. Hoje, a Folha mostrou que investigações da Polícia Federal
apontam que o empresário repassou informações sobre apurações contra o seu
grupo ao senador. No inquérito a que a Folha teve acesso, o nome de Demóstenes
aparece, por exemplo, num relatório da PF sobre um diálogo gravado com
autorização judicial no dia 13 de março do ano passado, às 15h37. Nele,
conversam Cachoeira e o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o
Dadá --apontado pela Procuradoria como o principal araponga da quadrilha. Ambos
estão presos. De acordo com a PF, eles falavam sobre investigações sigilosas
que o grupo sofria à época, quando a Monte Carlo já estava em andamento.
OUTRO LADO
Questionado sobre as gravações
da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, o advogado de Demóstenes Torres,
Antonio Carlos de Almeida Castro, afirmou que elas não têm valor jurídico e são
totalmente nulas. Isso porque o senador só poderia ser investigado com
autorização do STF. O advogado afirmou não ter tido acesso à íntegra de todos
os diálogos interceptados pela PF, mas critica a atuação da polícia. "Como
vou fazer interpretação de uma suposta interpretação do que a polícia
ouviu?", questionou. Segundo a defesa, caberia ao juiz de primeira
instância remeter o caso de Demóstenes ao Supremo logo nos primeiros dias de
escutas. A Folha tentou novo contato com o senador nesta sexta-feira, mas não
obteve resposta até a publicação desta reportagem.