FLÁVIA FOREQUE – da Folha de
São Paulo
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Deputado e futuro ministro Aguinaldo Ribeiro |
O novo ministro das Cidades,
Aguinaldo Ribeiro (PP), afirmou que sua tarefa agora será resolver "alguns
entraves" da pasta e evitou falar de mudanças em cargos do ministério. Ele
falou com os jornalistas após reunião com a presidente Dilma Rousseff, na tarde
desta quinta-feira (2). Ribeiro vai substituir Mário Negromonte, que deixou a
pasta após suspeitas de irregularidades. Sua posse está agendada para a tarde
da próxima segunda-feira (6). "Vamos ter este fim de semana para nos
inteiramos de todas essas questões com maior profundidade e apresentarmos o que
a presidente quer, que é exatamente resultado efetivo dessas ações do
Ministério das Cidades", afirmou Ribeiro. Ele citou ainda a necessidade de
superar "entraves" e "dinamizar" a relação com a Caixa
Econômica Federal, que está na linha de frente do programa Minha Casa, Minha
Vida. O novo ministro disse não temer fogo amigo dentro do próprio partido. A
falta de apoio político foi um dos motivos que levaram à queda de Negromonte. "O
que nos motivou sempre com as mudanças na Câmara foi a melhoria e
fortalecimento do partido. Nós sempre buscamos a unidade todo o tempo. E acredito
que foi isso também que possibilitou que nós tenhamos agora esse caminho da
unidade por alcançar num futuro muito próximo", disse.
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Aguinaldo Veloso Borges, envolvido em
assassinatos de camponeses na Paraiba
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Questionado sobre o passado de
seu avô, acusado em livros oficiais de mandar matar líderes camponeses na
Paraíba, o novo ministro foi sucinto. "Eu nasci em 1969", limitou-se
a dizer. O avô de Ribeiro, o ex-deputado Aguinaldo Veloso Borges, é apontado
como mandante do assassinato de João Pedro Teixeira, fundador da Liga Camponesa
de Sapé (PB), em 1962. O avô do ministro
também é associado à morte da líder Margarida Maria Alves, em 1983. “É melhor morrer na luta do que morrer de fome”. Este era o lema cunhado por Margarida Maria Alves em seu último discurso antes de ser morta. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB), terra onde nasceu Jackson do Pandeiro, foi covardemente alvejada no rosto no dia 12 de agosto de 1983, em frente a sua casa e ao lado de seu filho, por ordem de José Buarque de Gusmão Neto, usineiro de Alagoa Grande, ligado politicamente ao Veloso Borges, detentor de grande poder político e econômico no estado e, inclusive, no Colégio Eleitoral que elegia o Presidente da República na época da Ditadura Militar. Julgado somente 18 anos depois do homicídio, o usineiro e chefe político paraibano foi absolvido em junho de 2001. Nos anos de 1960, as famílias Lundgren, Suíssa, proprietária de todas as casas e toda a terra do município de Rio Tinto, metade das terras do município de Mamanguape e
proprietária das antigas casas Pernambucanas, casas Paulistas e da Companhia de
Tecidos de Rio Tinto, elegiam deputados na Paraíba e Pernambuco e ajudaram a
formar grupos de famílias violentos no interior da Paraíba. Os grupos mais
violentos eram: os Ribeiros Coutinho e os Veloso Borges, situados em Santa
Rita, proprietário de fábricas e usinas, sendo Agnaldo Veloso Borges, Pedro
Ramos Coutinho e Antonio José Tavares acusados de serem os mandantes do
assassinato do líder João Pedro Teixeira. Aguinaldo Veloso Borges, sexto
suplente de deputado na coligação UDN-PL, junto com o governador João Agripino
Filho, numa trama espúria, fez com que os cinco suplentes anteriores se
ausentassem e ele assumisse o mandato para adquirir imunidade. Ribeiro é aliado
do antecessor de Negromonte na pasta, o ex-ministro Márcio Fortes, atualmente
no comando da APO (Autoridade Pública Olímpica). Contra a sua indicação pesava
o fato de responder a um processo que apura crimes previstos na lei de
licitações.
SECRETARIA-EXECUTIVA
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Corpo de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado |
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Margarida Maria Alves, também assassinada |
O novo ministro evitou falar de
mudanças em cargos do ministério com a saída do ministro Mário Negromonte,
envolvido em suspeitas de irregularidades. Questionado se a atual secretária
nacional de Habitação seria um bom nome para assumir o posto número dois do
ministério --como vem sendo ventilado-- o novo ministro afirmou: "As
referências que nós temos da secretária Inês Magalhães são muito boas. Mas não
queria falar nisso nesse instante." A situação de Negromonte agravou-se na
semana passada após a Folha revelar a participação dele e do
secretário-executivo, Roberto Muniz, em reuniões privadas com um empresário e
um lobista interessados num projeto do ministério. O episódio culminou com a
demissão do chefe de gabinete do ministro, Cássio Peixoto, na quarta-feira.
Muniz também deve sair.
HISTÓRICO
Negromonte é o primeiro
ministro a deixar o governo da presidente Dilma neste ano devido a suspeitas de
irregularidades em sua gestão. Em 2011, primeiro ano de governo da presidente,
seis ministros deixaram o governo na mesma condição: Antonio Palocci (Casa
Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva
(Esporte), Wagner Rossi (Agricultura) e Carlos Lupi (Trabalho). Neste ano,
houve troca de ministros devido às eleições municipais: Fernando Haddad deixou
a pasta de Educação para se dedicar à disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Aloizio Mercadante, então ministro de Ciência e Tecnologia, assumiu a função.