Do UOL Notícias – com fotos de Gleb
Garanich/Reuters – FOLHA DE SÃO PAULO.
Ativistas feministas fazem protesto
em frente à residência do embaixador indiano em Kiev, na Ucrânia.
Poderia ser mais um protesto ou
apenas mais um grupo de ativistas exigindo respeito aos direitos humanos e às
mulheres. Mas as ativistas da Femen descobriram que para roubar a cena e chamar
atenção de verdade para um movimento na Ucrânia, era preciso ter um pouco mais
de ousadia. E foi aí que o topless entrou em cena.
Criado em 2008 por um grupo de
universitárias de Kiev, a Femen é um grupo de ativistas femininas que defende
os direitos humanos e das mulheres, em especial as ucranianas. Lideradas por
Anna Hustol, 26, elas costumam protestar sem a parte de cima da roupa, no
estilo topless. Entre os principais alvos das garotas estão os turistas que
alimentam a indústria do sexo na Ucrânia. Hoje, a capital ucraniana Kiev é um
dos principais pontos de turismo sexual no mundo. Folhetos nas ruas e nos
hotéis, anúncios nos jornais e até a organização de excursões de sexo são
comuns na Ucrânia. Segundo o Ministério do Interior, o país tem hoje cerca de
12 mil prostitutas. Com a crise econômica e o alto índice de desemprego, o
receio é de que esse mercado cresça ainda mais.
Para tentar reverter a
situação, elas criaram a campanha "A Ucrânia Não é Bordel". Vestidas
como prostitutas, as garotas vão para as ruas protestar contra a prostituição e
o turismo sexual. “Nós queremos mostrar que a mulher tem um papel menor na
nossa sociedade. O lugar delas é visto como sendo a cozinha ou a cama”, diz a
estudante de economia Alexandra Shevchenko, 22, à agência de notícias Reuters.
Segundo a Femen, em Kiev, estima-se que 60% das universitárias recorra à
prostituição para se manter. Questionadas se o fato de usarem o corpo para
chamar atenção não diminui o valor ou contraria o movimento, elas dizem não ver
problemas. “Nós começamos vestidas e ninguém reparava. Eu sou uma grande fã de
tirarmos nossas roupas. É como conseguimos atenção da nossa plateia”, diz
Shevchenko. “É tudo o que temos, nosso corpo. Nós não temos vergonha disso”,
diz a estudante de jornalismo, Inna, 20, à Reuters.
Assim como o grupo vem
intensificando os protestos, que estão cada vez mais políticos, a repressão
policial também aumentou. “A polícia está mais agressiva agora. Mas isso mostra
que estão começando a nos levar a sério”, diz a líder das ativistas. No início
do ano, logo após a abertura dos locais de votação para o segundo turno da
eleição presidencial da Ucrânia, disputado entre o opositor pró-Moscou Viktor
Yanukovich e a primeira-ministra Yulia Timoshenko, as ativistas tiraram a blusa
e começaram a gritar "este é o fim da democracia". As ativistas
disseram a jornalistas que estavam protestando contra o "fim da
democracia'' na Ucrânia, e não contra ou a favor dos candidatos. Acabaram
expulsas do local de votação. Já em outubro deste ano, o grupo protestou –
fazendo topless - contra a visita do primeiro ministro da Rússia, Vladimir
Putin, à Kiev, Ucrânia, para tratar sobre cooperação de gás e energia nuclear
com o país.
Na semana passada elas voltaram
a ser notícia depois de invadirem um evento de promoção da cultura iraniana em
um centro de convenção em Kiev e defenderem a iraniana Sakineh Mohammadi
Ashtiani, condenada à morte no Irã por adultério. Hoje, a Femen conta com cerca
de 300 ativistas que participam dos protestos. Mas quando somam o apoio que
recebem via internet, a base de ativistas chega a 2.500. Mesmo com poucos
recursos e uma atuação limitada à capital ucraniana, a Femen é um dos poucos
movimentos de protesto regulares no país. Sobre uma agenda política para o
futuro, Hutsol diz que as garotas já “estão trabalhando nisso”. O último ato
foi um protesto em frente à residência do embaixador indiano em Kiev, na
Ucrânia. O Femen é contra a ida de profissionais do sexo para a Índia.