Reportagem de ANA FLOR e BRENO COSTA. Foto de SÉRGIO LIMA – da FOLHA
DE SÃO PAULO.
Orlando Silva, agora, ex-ministro. |
O
ministro Orlando Silva (Esporte) anunciou seu afastamento do governo logo após
um encontro com a presidente Dilma Rousseff, no início da noite desta
quarta-feira (26). Segundo ele, a saída foi uma medida para "salvar sua
honra". "Eu decidi sair do governo para que possa defender a minha
honra, o trabalho no Ministério do Esporte, o governo que eu acredito e
defender o meu partido", disse durante entrevista coletiva na saída do
encontro. O PC do B não anunciou um novo nome e disse que a escolha cabe à presidente.
O Planalto informou que a exoneração de Orlando será publicada amanhã no
"Diário Oficial da União", e que o secretário-executivo, Waldemar
Manoel Silva de Souza, ocupará interinamente o cargo.
Acompanhado do presidente do PC do B, Renato
Rabelo, Orlando concedeu uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto. Chegou
ao local sorrindo e brincando com os jornalistas, avisando que teria de
"seria breve" porque hoje é o aniversário da sua mãe. Se ofereceu,
inclusive, para arrumar os gravadores e microfones dos repórteres. Ele afirmou
que repetiu para a presidente as conquistas da sua gestão na pasta e que, em um
segundo momento da reunião, disse que deixava a pasta porque ele e seu partido
não podiam "ser instrumento" para ataques ao governo. "Nosso
partido não pode ser instrumento de nenhum tipo de ataque ao governo. A melhor
solução seria eu me afastar do governo. Essa foi uma decisão consciente que eu
tomei, e a presidente me apoiou", disse Orlando, que admitiu que a
situação na pasta gerou uma "crise política".
O
ministro chamou o policial João Dias Ferreira e o motorista Célio Pereira de
criminosos, e afirmou que eles "fugiram do Congresso Nacional porque não
tinham provas". Os dois haviam sido convidados para prestarem depoimento
em uma comissão da Câmara, hoje. "Hoje completam 12 dias em que eu sofri
um ataque baixo, uma agressão vil, baseada em mentiras. E há 12 dias nenhuma
prova surgiu ou surgirá." Orlando Silva também negou que um esquema de desvio
de recursos públicos envolvendo ONGs ligadas ao PC do B tenha se enraizado na
pasta. Disse que os convênios suspeitos foram e estão sendo investigados. "Nosso
compromisso ético é o do nosso trabalho", disse. Orlando deixou o local
mais cedo, enquanto Rabelo respondia perguntas da imprensa. O presidente do PC
do B defendeu novamente o ministro demissionário e disse que cabe à presidente
escolher o substituto. Rabelo não quis responder se houve discussão de um novo
nome ou se o partido indicou substitutos. Apenas afirmou que o PC do B
"não é um partido conjuntural, que está no governo simplesmente porque
caiu de paraquedas".
INTERINO
O
ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) afirmou que, ao menos por
enquanto, o ministério deve ser comandado por um interino. Waldemar Manoel
Silva de Souza é quem fica interinamente no cargo. Carvalho não revelou
quem são os possíveis substitutos de Orlando, mas disse que o ministério deve
continuar sob o comando do PC do B. Ainda de acordo com Carvalho, nas reuniões
que o governo teve com o presidente do PC do B ontem à noite e com o próprio
ministro Orlando Silva, hoje, pela manhã, não se chegou a um acordo sobre o
nome do substituto. Como não houve uma definição sobre o nome, a presidente
poderá nomear o secretário executivo como interino para poder decidir com
calma. "Pode haver situação de interinidade. É o mais provável",
disse o ministro. Pouco depois do início do evento de posse de Ana Arraes como
ministra do TCU (Tribunal de Contas da União) nesta quarta-feira, as deputadas
do PC do B Perpétua Almeida (AC) e Luciana Santos (PE) deixaram o evento rumo a
um encontro com a cúpula do partido. Luciana está entre os nomes cotados para
assumir a pasta --era a escolha de Dilma em dezembro para o ministério. Também
são cotados para o cargo o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP) e o
presidente da Embratur, Flávio Dino (PC do B-MA).
ENTENDA O CASO
Orlando é
suspeito de participação num esquema de desvio de recursos do programa Segundo
Tempo, que dá verba a ONGs para incentivar jovens a praticar esportes. A
acusação foi feita à revista "Veja" pelo policial militar João Dias
Ferreira. Após pedido feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) abriu um inquérito para
investigar o caso. Na avaliação do Planalto, a decisão do STF agravou a
situação do ministro. " O PC do B disse que respeita a decisão da
presidente. Sabe que a decisão é da presidente, e o ministro Orlando Silva foi
de uma maturidade política muito grande." Ferreira e seu motorista
disseram em entrevista à revista que o ministro recebeu parte do dinheiro
desviado pessoalmente na garagem do ministério. A denúncia foi confirmada em
entrevista à Folha. Segundo
o ministro, que tem desqualificado o policial militar em entrevistas e nas
oportunidades que falou do assunto, disse que as acusações podem ser uma reação
ao pedido que fez para que o TCU (Tribunal de Contas da União) investigue os
convênios do ministério com a ONG que pertence ao autor das denúncias. Em nota,
o Ministério do Esporte disse que Ferreira firmou dois convênios com a pasta,
em 2005 e 2006, que não foram executados. O ministério pede a devolução de R$
3,16 milhões dos convênios. De acordo com o ministro, desde que o TCU foi
acionado, integrantes de sua equipe vêm recebendo ameaças.