Cidades do Velho Chico: Curaçá e Riacho Seco - Capítulo 5

Riacho Seco

Saímos de Barra do Tarrachil pela BA 210 e seguimos para o entroncamento com a BR 116, distante a apenas 17 kms. De lá seguiríamos pela mesma rodovia estadual e pernoitaríamos no histórico município de Curaçá, distante 97 kms da BR 116. Antes, no meio do caminho, conheceríamos o distrito de Riacho Seco, a maior comunidade de Curaçá, depois de sua sede. Está localizado nas margens do São Francisco e da BA 210, a 43 kms de Curaçá. Seu povo é famoso pela hospitalidade e tem na agricultura familiar a base de sua sobrevivência. Chegamos no distrito pela noite e, como não retornaríamos da viagem por aqui, fizemos registros noturnos da povoação.  

Segundo Rita Paiva, Riacho Seco deve esse nome por conta de um riacho local que ficou 7 anos sem água. Sua primeira edificação urbana foi o cemitério construído por Antônio Conselheiro e inaugurado em 1877. O maior patrimônio de Riacho Seco, além do seu povo, são suas festas populares. Quem não ouviu falar da Festa da Agricultura com histórias que não se podem enumerar? O vaqueiro é a profissão mais destacada do lugar. O poeta e repentista Laerte de Riacho Seco luta pela organização da classe, pela união dos vaqueiros, conhece a história do seu povo e tem plena consciência da atual condição de seu ofício. Ele é frequentador assíduo das celebrações e encontros culturais do distrito e do município, principalmente a tradicional Missa do Vaqueiro.  

Curaçá

Mas o nosso destino seria a cidade de Curaçá e as condições da BA 210 eram boas. Poderíamos seguir sem medo pelos 43 kms. Aproveitamos aqui um tempo para contarmos a história da cidade. Comecemos pelo nome: Curaçá significa Cruz. Era como os indígenas chamavam o símbolo católico por aqui, quando a região era habitada pelos índios tapuias. Quem primeiro chegou foi o Padre Luis da Grã, em missão de categuese. Também o bandeirante Belchior Dias desbravou estas terras. Foi ele quem fundou a povoação Pambu, primeiro lugarejo destas bandas.

Foi no ano de 1809 que o povoamento se consolidou, quando o capitão-mor João Francisco dos Santos doou o sítio Bom Jesus da Boa Morte a seu filho Florêncio Francisco dos Santos. Nesta mesma época, o padre José Antônio de Carvalho por aqui se estabeleceu e edificou a igreja do Bom Jesus da Boa Morte, formando em torno dela o povoado. Em 1832 foi criado o município com sede em Pambu. Como Pambu não se desenvolveu, em 1853, transferiu-se a sede municipal de Pambu para Bom Jesus da Boa Morte, com o novo nome de Capim Grosso. Em 1890, o nome foi mudado para Curaçá. O território do município era enorme, abrangendo inclusive as terras de Curaçá, Ibó, Chorrochó, Patamuté, Várzea da Ema e Barro Vermelho. Com a criação do município de Chorrochó, Curaçá perde os distritos de Chorrochó, Várzea da Ema e Ibó. Com a criação dos distritos de Riacho Seco e Poço de Fora, o município passa a ser formado por Curaçá, Barro Vermelho, Patamuté, Poço de Fora e Riacho Sêco, formação que mantém até hoje.

O município tem uma área de 5.950,614 km², com uma população de 34.180 habitantes no censo de 2022, ou seja, 5,7 pessoas por km2.  A distância até Salvador é de 587 kms. No último dia 6 de julho, Curaçá completou 192 anos de sua fundação e faz parte da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina/Juazeiro (RIDE Polo Petrolina-Juazeiro), que abrange alguns municípios do norte da Bahia e do oeste de Pernambuco no entorno do Vale do São Francisco. Faz limites com Abaré, Chorrochó, Jaguarari, Juazeiro e Uauá em território baiano; Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista, Orocó e Cabrobó em território pernambucano.

Depois de chegarmos na cidade, fomos a busca de uma pousada. Encontramos bem no centro a pousada Cidade, administrada por Juliana Monteiro. Depois de organizar a dormida, fomos comer algo e escolhemos o Vaqueiros Burguer. Eles trabalham com hambúrgueres artesanais. É coisa fina. Só é preciso ter cuidado para não se empanzinar. No outro dia fomos conhecer a cidade e os seus principais pontos históricos. Claro, não esqueceríamos os Teatro Raul Coelho, à beira do São Francisco, com espetáculos ao ar livre ou na parte interna, terceiro teatro construído na Bahia e o segundo mais velho em atividade. Não há nada igual em todo o Nordeste. Também não se pode esquecer o museu da cidade, criado em 2005, que não pudemos visitar. O ponto principal é a Paróquia Bom Jesus da Boa Morte e São Benedito, que é co-padroeiro. Nela são feitas as celebrações em louvor aos dois padroeiros, com procissões se concentrando na Praça Raul Coelho, portando velas e depois seguem pelas ruas principais e Centro Histórico da cidade. Após a procissão, os participantes fazem o hasteamento da Bandeira de São Benedito em frente à Igreja Matriz.

Saímos da cidade com a certeza de que o material que levávamos era muito pouco para retratar um município com 192 anos de história. Era a garantia de que retornaríamos em breve. Curaçá merece muito mais que uma só postagem.