Depois de deixarmos Curaçá, seguimos normalmente pela BA 210 na direção de Juazeiro. Seria a nossa próxima cidade a ser aqui retratada, mas optamos por seguir para Sento Sé, fazer a cobertura, retornarmos em sentido Casa Nova e seguir para Remanso. Assim fizemos e aqui começamos este sexto episódio. Caso tivéssemos tempo, seguiríamos para Pilão Arcado, o que não ocorreu. Dormimos em Remanso no aconchegante Hotel Mangueira, bem no centro da cidade. Logo cedo saímos para a luta. Tínhamos uma longa jornada a percorrer naquele dia 10 de junho.
Mas vamos então saber como surgiu este município de nome tranquilo. A região do município tinha como moradores os índios mocoazes e acoroazes, mas no século 17 estas terras passaram a pertencer ao território que integrava a sesmaria do Conde da Ponte. No século XVIII já havia a fazenda Arraial, de Monel Félix da Veiga, arrematada por Joaquim José Gonçalves, em 1829. Estabeleceram-se ali famílias retirantes de Pilão Arcado, onde haviam lutas armadas entre Guerreiros e os Militão. A fertilidade do solo e a pesca contribuíram para a fixação dos colonos, que formaram o Arraial de Nossa Senhora do Remanso.
O crescimento foi tão grande que, em 1857, transferiu-se para cá a sede de Pilão Arcado, criando-se o município de Nossa Senhora do Remanso de Pilão Arcado. Em 1900 o nome foi simplificado para Remanso com a elevação da vila à cidade, pela lei estadual nº 369, de 08 de agosto daquele ano. O nome, não poderia deixar de ser, está ligado ao fato de as águas do Rio São Francisco correram vagarosamente nesta região, ficando como que paradas. A criação de gado, a agricultura de subsistência, a pesca e o comércio sempre foram a base econômica de Remanso, mas um lago artificial mudou seu destino.
Pelo decreto federal nº 10/77, de 28 de janeiro de 1977, a sede municipal foi transferida para local distante sete quilômetros da cidade velha, que hoje está inundada pelas águas da Barragem de Sobradinho. Remanso teve um quarto do seu território inundado porque a barragem formou um lago de 370 Km de extensão, com a largura de até 40 Km, inundando uma área de 4.214 Km. Foram 72.000 pessoas atingidas, deixando submersas Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, dezenas de distritos, povoados, fazendas, sítios e ilhas.
Há até hoje os insatisfeitos com as indenizações e a mudança obrigatória. São inúmeros os benefícios do lago, mas, num projeto gigantesco como este, é impossível não ter havido muitas injustiças. Segundo Rosicleide Alves Moura, em seu artigo REMANSO: A QUESTÃO DO TEMPO E ESPAÇO, a Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), seguiu a meta de um sistema de indenização a baixo custo e considerou como devolutas as terras que não estivessem tituladas e indenizou apenas as benfeitorias para baratear o custo de sua obra. Isso dificultou a vida de muita gente.
O impacto da construção da barragem está ainda hoje determinando a vida de muita gente, ficando ainda uma certa saudade da velha Remanso. Todas as vezes que a água do lago diminui, a velha Igreja de Nossa Senhora do Rosário surge das águas, reconstruindo todo um tempo que passou. O lago que tirou o sono de alguns, hoje é futuro para muitos. A cidade está voltada para o turismo, como um novo braço da economia, mesmo que ainda sem os investimentos necessários.
Remanso hoje tem uma área de 4.573,505 km², isso mesmo depois de perder os distritos de Catita e Peixe, para formar o município de Campo Alegre de Lourdes, e ter parte do município tomado pelas águas do lago. Sua população em 2022 foi de 40.586 habitantes, com 8,9 pessoas por Km2. Fica a 720 quilômetros de Salvador e faz limites com Pilão Arcado, Casa Nova, Sento Sé, Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, e Dirceu Arcoverde, Dom Inocêncio e Coronel José Dias, no Piauí.