Cidades do Velho Chico: Paulo Afonso

Antes de a coroa portuguesa entregar estas terras ao latifundiário Garcia D’Ávila, as terras do hoje município de Paulo Afonso eram habitadas pelos índios Mariquitas e Pancarus. Os verdadeiros donos do lugar eram pacíficos e isso permitiu a chegada dos brancos no século XVII. Claro que a maior riqueza da região era o rio São Francisco e suas belas cachoeiras. Começaram por aqui pelas lavouras e criação de gado, contando com a presença de padres católicos para a catequese dos índios. Em 3 de outubro de 1725, Paulo Viveiros Afonso recebeu uma sesmaria medindo três léguas de comprimento por uma de largura. As terras abrangiam a margem esquerda do rio São Francisco e as terras alagoanas da Cachoeira, denominada “Sumidouro". Mas Paulo Afonso estendeu os seus limites por conta própria, indo para as ilhas fronteiras da Barroca, ou Tapera, e as terras baianas existentes na margem direita, onde construiu um arraial que, posteriormente, se transformou na Tapera de Paulo Afonso. Ao longo da sua história atraiu visitantes ilustres, que se inspiraram na cachoeira para criar obras e ideias. Castro Alves passou por Paulo Afonso quando estudante de Direito na Faculdade do Recife. O imperador Dom Pedro II esteve na cachoeira em 20 de outubro de 1859.

A localidade passou a ser pouso obrigatório de boiadas e permitiu algum desenvolvimento comercial. De tapera passou a lugarejo e virou núcleo habitacional do município de Glória. Em 15 de março de 1948, nasce a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, com a finalidade de aproveitar a energia da Cachoeira de Paulo Afonso. O acampamento de obras localizou-se nas terras da Fazenda Forquilha. Era o que faltava para alavancar o seu crescimento. Perto dali, desde 1913, já havia uma pequena usina de 1.500 HP, fruto da genialidade e pioneirismo de Delmiro Gouveia, transportando energia elétrica de Paulo Afonso para a localidade de Pedra, atual Cidade de Delmiro Gouveia.

Hoje, o complexo hidrelétrico de Paulo Afonso é composto por 5 usinas: Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), esta em território do município de Delmiro Gouveia, em Alagoas. A produção total é 4 279,6 megawatts de energia, gerada a partir da força das águas da Cachoeira de Paulo Afonso, um desnível natural de 80 metros do Rio São Francisco, com a terceira maior capacidade instalada dentre as usinas do Brasil, perdendo apenas para Belo Monte (11 233 MW) e Tucuruí (8 000 MW), já que Itaipu com 14 000 MW é binacional (Brasil e Paraguai).

É inegável que o desenvolvimento da cidade é regado pela energia elétrica, desde a construção do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso no início da década de 1950. A gigantesca obra foi um desafio para a engenharia brasileira. Tiveram que controlar e reverter o fluxo do Rio São Francisco para então iniciar-se o processo de construção da barragem da primeira usina (Paulo Afonso I), depois inaugurada pelo presidente Café Filho em 15 de janeiro de 1955. Dois anos antes, Paulo Afonso passava a Distrito do município de Glória pela Lei Estadual n.° 628, de 30 de dezembro de 1953, instalado em 24 de setembro de 1954. Foram necessários apenas quatro anos para que o distrito virasse município. Em 28 de julho de 1958, a Lei Estadual n.° 1.012 concede a Paulo Afonso a sua autonomia política e administrativa. Seu complexo hidrelétrico foi concluído no ano de 1979.

Hoje, Paulo Afonso tem uma estrutura urbana bem desenvolvida porque foi planejada desde sua criação. O centro da cidade fica dentro de uma ilha artificial, construída com a implantação do canal da usina IV. Os bairros são satélites em torno do centro e fora da ilha também possui outros bairros importantes, exemplo do Bairro Tancredo Neves I, II e III, o mais populoso. O município conta com uma zona rural bastante povoada e possui vários lugarejos. A população de Paulo Afonso já ultrapassa os 120 mil habitantes e se aproxima dos 70 habitantes por km2. A cidade é polo regional de desenvolvimento e sua estrutura equivale a uma cidade de porte médio, com universidades, museus, institutos de educação e tudo que é relevante para necessitar minimamente dos recursos da capital, distante 440 kms.