Binho: "Não há nada de positivo na administração de Sorria" (foto: Landisvalth Lima) |
Fábio José Reis de Araújo,
conhecido por Binho de Alfredo, ou simplesmente Binho, disputou em 2016 a
eleição para prefeito de Fátima pelo Partido dos Trabalhadores. Completa, no
dia 20 de março, 33 anos. Era vereador atuante quando assumiu a secretaria de administração
do governo do ex-prefeito Nego. Seu trabalho o credenciou a ser o candidato do
grupo, ao lado do vice Gilvan de Pedro de Dé. Perdeu a eleição por 254 votos
para Manoel Messias Vieira, o Sorria, do PP. Binho é atualmente Diretor do
Núcleo Territorial de Educação – NTE 17 – localizado em Ribeira do Pombal.
Professor da rede estadual da Bahia, deu entrevista a este blog na cidade de
Fátima.
Landisvalth Blog: Quais a lições
que ficaram depois do resultado da eleição de 2016 aqui em Fátima?
Binho – A maior lição que ficou
é a certeza de que as pessoas que pensam como nós pensamos não podem jamais
desistir desse processo. A eleição foi muito acirrada. Perdemos por pouco mais
de 200 votos. A população demonstrou que queria uma mudança no sentido da prática
de fazer política, representada nos dois candidatos. Tivemos uma derrota
eleitoral, mas obtivemos uma vitória política. Isso porque muitos acreditavam
que nossa candidatura, exatamente porque pensávamos diferente do que se estava
acostumado, não era para valer. Pensavam que seria colocada pura e simplesmente
para fazer oposição. Ficou claro que não foi isso. Nossa candidatura conquistou
corações e mentes do povo fatimense. Foram alguns detalhes, comuns na política
tradicional do interior, que impediram a nossa vitória. Mas o que ficou claro
para todos é que é possível sim a inovação vencer.
Landisvalth Blog – Na política do
interior existe a questão da disputa de grupos. Você estava ligado ao grupo que
estava no poder, inclusive com muita popularidade. Qual foi o papel do
ex-prefeito Nego naquela eleição e o que faltou, do ponto de vista da ação de
grupo, para você ganhar a eleição?
Binho – Não duvido de que todos
se esforçaram para que pudéssemos sair vitoriosos do pleito. Cada um com sua
forma de fazer política. Nego, Roberto, Gilvan, os candidatos a vereador e cada
um dos nossos eleitores lutaram pela vitória. Não foi possível vencer. Os erros
corrigiremos. Mas tivemos uma vitória política significativa. É hora de olhar
para frente. O retrovisor não é o melhor conselheiro para quem está na política.
Landisvalth Blog – Alguns afirmam
que a Operação 13 de Maio influenciou no resultado. Nós acreditamos que não,
até porque você não estava envolvido. Já Messias foi até preso. Como você
definiria tal equívoco?
Binho – Usar o argumento de que
não votaria em mim porque eu era secretário de administração e amigo de Nego,
que foi investigado, e que eu não poderia ter sido candidato por conta disso,
não tem nenhum sentido. Não votariam em mim porque fazia parte de uma administração
que foi investigada pela Operação 13 de Maio, mas vota num candidato que foi
preso pela mesma operação. Não há quem entenda tal coisa. É argumento de quem
não queria de fato votar em mim. Quem não quer votar sempre arruma um argumento
para convencer a si mesmo. Não poderiam dizer que eu era ladrão nem que estava
envolvido em malfeitos na administração pública. Tinham que inventar algo e eu
entendo perfeitamente.
Landisvalth Blog – A oposição
hoje na Câmara Municipal de Fátima tem quantos vereadores?
Binho – Cinco vereadores.
Landisvalth Blog – Como está a
atuação da oposição hoje no Legislativo de Fátima?
Binho – Eu fui vereador e eu
sei o que é atuar como vereador por aqui. Frequentemente nos reunimos,
inclusive com Gilvan, que foi meu vice, Roberto da Farmácia, lideranças locais,
discutimos a política local e as dificuldades de praxe. Ou seja, aquele
agrupamento da eleição de 2016 continua hoje. Sempre que conversamos, e me é
pedido opinião sobre algo, digo a eles que o mandato é deles e são eles que
sabem o caminho a trilhar. O que vejo realmente são cinco vereadores combativos
na Câmara, utilizando a tribuna da casa e colocando seus posicionamentos de
forma firme. Além disso, atuam dando o melhor atendimento possível ao nosso
eleitorado. Os nossos vereadores nos orgulham muito.
Landisvalth Blog – Se vocês estão
unidos, diferentemente de 2016, quando o grupo demorou a indicar o candidato,
já há algum consenso sobre seu nome para ser o candidato das oposições em 2020?
Binho – Veja bem, cada eleição
é uma história. Nosso conglomerado político é composto de alto valor político,
desde os cinco vereadores, a Gilvan, Roberto da Farmácia, Nego e outros. Haverá
discussão em torno destes nomes e o meu também será colocado. Por enquanto essa
discussão não está sendo feita. Nossa preocupação no momento é manter a
unidade. É natural que agora, em 2018, haverá candidatos diferentes para
deputado, o que é natural. As lideranças seguem seus partidos a nível estadual
e federal. Nosso aglomerado deve apresentar 2 deputados estaduais e 3 federais.
Mas não há divergências, embora muitos dos nossos eleitores estão preocupados
com possíveis brigas internas. Estamos conversando para evitar isso.
Landisvalth Blog – Ou seja, o
resultado da eleição deste ano não causará fissura no grupo opositor em Fátima?
Binho – De forma alguma.
Inclusive há uma ideia que pretendemos colocar em prática: a do Comitê
Unificado. Cada um pedirá voto para o seu deputado e respeitará o espaço do
colega. A ideia é passar para o povo que, divergências estaduais e federais à
parte, o grupo está unido.
Landisvalth Blog – Você, Binho,
como principal liderança da oposição hoje em Fátima, indique o principal ponto
negativo da administração de Sorria nestes 14 meses. Também indique um ponto
positivo.
Binho – O ponto negativo
principal é, sem dúvida, o desrespeito ao funcionalismo público municipal. Não
existe sucesso numa administração se não se respeitar o funcionalismo público.
São eles que estão na ponta da administração. A função do prefeito é a de
liderança. Ele lidera seus funcionários. Quem representa o prefeito lá na ponta
é a recepcionista da maternidade, é o médico, o professor...quer queira ou não,
o funcionário é o representante do prefeito na administração. Não respeitar o
servidor é não querer ter sucesso. Vimos nestes meses total desrespeito ao
funcionalismo público de Fátima. Não respeitou Plano de Carreira do professor,
nem dos Agentes de Endemias...Leis que foram construídas na Câmara de
Vereadores com muito diálogo. De repente, vem um decreto de Sorria e cancela
tudo alegando inconstitucionalidade. Ora, quem deveria dizer isso era o Poder
Judiciário. Hoje temos funcionários com perdas significativas nos salários
mensalmente de 400, 500, 1000 reais. Por isso vejo como o maior ponto negativo
desta administração. Quem está na administração de hoje, esteve na de ontem.
Eles não aprenderam nada e não esqueceram nada. É a mesma coisa. Quando digo
que eles não mudaram nada é porque representam a velha política, o jeito antigo
e atrasado de administrar. Dizia isso na campanha e o prefeito está demonstrando
isso na prática. Exemplo é a maternidade do município de Fátima. Ela foi interditada
pela Vigilância Sanitária, no primeiro governo do atual prefeito. Há mais de
uma década os filhos de Fátima nascem nos municípios vizinhos. Há mais de uma
década deixamos de receber recursos de outros entes federados para melhorar a
saúde pública porque nossa maternidade, que é nosso hospital, não atende as
exigências da vigilância sanitária. Conseguimos com o deputado Caetano uma
emenda de 299 mil reais. O dinheiro já está na Caixa Econômica e liberado há
mais de um ano. Precisa apenas um projeto arquitetônico. A prefeitura não quer
usar os recursos. Por quê? Só para não dizer que foi o deputado Caetano quem
conseguiu. Essa é a maior representação do que é essa velha política. Por isso
não consigo ver ponto positivo algum. Nem discurso nem propaganda revelam o
lado positivo de uma administração. Isso só será possível com as ações administrativas.
Por isso não vejo nada de positivo.
Landisvalth Blog – Faltou dizer
algo? Fique à vontade.
Binho – Eu torço para que as coisas melhorem
em Fátima. Fizemos uma campanha bonita, não desrespeitamos o nosso adversário, enfim,
fizemos uma campanha como poderia ser feita. Respeito a decisão da maioria da
população, mas a administração é consequência desta decisão. A campanha nos
mostrou que não é o discurso que nos indica quem mudou ou não. O atual prefeito
reconheceu os erros que cometeu nas administrações anteriores e dizia que tinha
mudado. Hoje, até quem votou nele sabe que discurso não é garantia de mudança
de comportamento. É a prática, é a sua atitude. E não existia possibilidade de
mudança para alguém que fez uma campanha como ele fez em 2016. Foi pior que as
anteriores. Isso foi indicativo de que a administração seria consequência disso.
O povo precisa entender que o gestor que se quer depende muito do tipo de
campanha que ele faz. A população precisa tomar a decisão do que é que ela
quer. Se é um gestor compromissado com a educação, com a saúde, com o
funcionalismo público. Hoje temos comunidades passando sede por falta de água.
A prefeitura hoje não tem dinheiro, segundo o prefeito, para contratar
caminhões pipas ou consertar sistemas de abastecimento de água. Espera o
prefeito sempre pela Embasa. Não há dinheiro para tal, mas há recursos para pagar
assessoria jurídica a 30 mil por mês. O tipo de gestão que se faz depende do
tipo de campanha que se fez. Não há comida de graça, não há almoço de graça. Se
o político gasta absurdos, estes recursos têm que vir de algum lugar. Talvez
seja por isso que há sérios problemas na administração de Sorria.