Landisvalth Lima
Sérgio Cabral sendo transferido para Brasília (foto: Giuliano Gomes/Estadão) |
A foto de Giuliano Gomes, do
Estadão, estampando o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (MDB),
algemado nos braços e nas pernas, deve entrar para a história como a mais
importante. Acredito que só perderá uma destas com Lula como protagonista,
coisa que acredito não acontecerá. Lula será preso, mas não farão isso com ele.
Esperava que isso acontecesse com o deputado federal Paulo Maluf, mas as fotos
foram comedidas e pareciam uma comédia. Ele fingiu tanto estar doente que
estragou o flagrante. Sérgio Cabral, não. Estava lúcido, consciente de que sua
vida só piorava.
A imagem é importante. E não
pensem que é para alimentar meu ódio pessoal contra os corruptos. Não tenho ódio
contra eles. Não gastarei meu estado de infelicidade para com estes miseráveis.
Eu os desprezo. A imagem não é para o regalo pessoal, mas para uma importante
simbologia de uma mudança inaugural da nova fase do país. No jornalismo,
estávamos acostumados a ver traficantes, ladrões de galinha, assassinos
protagonizarem tais cenas. Agora também vemos no centro os corruptos. Não é
pouca coisa. A imagem revela que “todos são iguais perante a Lei!”. Pelo menos
nesse ponto a Constituição está sendo cumprida. A representação da imagem é
fruto de uma nova lavra de juízes que decretaram intolerância zero aos que se
apoderam do dinheiro público. Sei que ainda há muito caminho a percorrer. Ainda
há estados intocáveis, com Juízes na folha de pagamento de corruptos ainda
desconhecidos. Também temos municípios onde a corrupção reina em silêncio, até
mesmo com a assinatura dos opositores. Mas, admito, é um extraordinário começo.
Quando eu já começava a desistir deste
país, quando imaginava que não tinha mais jeito, eis que vejo deputados, ministros,
governadores, banqueiros, empresários, doleiros e outros assistindo ao sol
nascer quadrado. Eu sei que vão falar das algemas, questionar a sentença,
defender os condenados, gritarem que foi golpe e outros lamentos mais. Sei
também que alguns poderão até voltar, driblar a lei e falar em candidatura,
colocando-se como vítima das elites, como o Collor e o próprio Lula. Sei de
tudo isso, mas essa foto é tão arrebatadora que me faz acreditar que o Brasil
do futuro, ético, progressista, democrático, educado... não é tão impossível
assim.