E se não houver mudança?

                                                    Landisvalth Lima
Mudar é preciso. Viver no conforto é comodismo! (foto: Jornal da Palavra)
Quando era filiado militante do PT, tentava convencer as pessoas de que as barbas de Lula e de Wagner significavam o novo para o Brasil e para a Bahia. Recebi muitos nãos. Lula era chamado de “Sapo barbudo”. A resistência era maior entre os próprios trabalhadores. Eu não entendia como um trabalhador do campo, sem terra para trabalhar, tinha medo de Lula. A justificativa era que ele tomaria as terras do povo. Também diziam que ele acabaria com a aposentadoria e traria o comunismo para o Brasil. Foram anos de luta para convencer o povão. Depois de tanta insistência, Lula chega ao poder no Brasil e Wagner se elege governador na Bahia. Hoje, continuo pensando em transformar a sociedade, que nada mudou. Não sou mais do PT, hoje o PDS de ontem. O Brasil não mudou. Mudaram os políticos que outrora causavam medo ao povo. Muitos vão dizer que eu estou equivocado porque há hoje menos miséria, não temos mais o FMI no nosso pé, somos a 7ª economia do mundo etc. Não estou dizendo que não houve avanços consideráveis em algumas áreas. Reconheço. Ocorre que pagamos um alto preço por estes avanços: decadência na saúde pública, na educação. Também poderia acrescentar o aumento da corrupção. Nunca se roubou tanto o Estado na história da nossa República. E poderia aqui citar vários problemas seculares que temos e que aumentaram nos últimos anos. Portanto, o que imagino é que, no geral, não saímos do lugar. É aceitável até dizer que, no somatório, pioramos e muito!
Fato é que ainda funciona a velha tese do coronel que indica. Quem se lembra do velho ACM, não pode ter saudades quando vê Wagner indicar o seu pupilo Rui Costa para ser o candidato da chapa governista. E ninguém questionou. Calaram e consentiram. Pensam de igual modo. E os currais eleitorais? Acabaram? Nada! Eles continuam tão presentes no cenário político baiano, como bem viu o jornal A Tarde, que, entre os critérios adotados na definição das chapas de 2014, está o tamanho dos partidos após as eleições municipais. O exemplo foi dado pelo próprio governador Jaques Wagner. Como argumento para optar pelo PP, Wagner citou o número de prefeituras controladas pela sigla, 56. João Leão (PP), escolhido para a vice, usa como moeda de troca a força no oeste. Seu filho, destino dos votos em dobradinha, Cacá Leão (PP) conseguiu 50% dos votos de Barra, à margem ocidental do Rio São Francisco. Mário Negromonte Jr. (PP), agora candidato a federal, obteve sua maior votação em Paulo Afonso, área de influência do pai, Mário Negromonte. E em Glória, administrada pela mãe, Ena Vilma, o deputado estadual conseguiu 48% dos votos da cidade. Marcelo Nilo foi rifado e, é provável, continuará votando no grupo porque seu partido tem muitos “negócios” com o governo.
Também não mudou a prática do velho nepotismo disfarçado. Como registrou o Bahia Notícias, tanto no âmbito da prefeitura quanto no do governo, a movimentação por apoio nas eleições deste ano já começa a ser notada, inclusive, no que diz respeito à destinação de vagas para parentes de deputados federais. Para ampliar a base aliada, o governador Jaques Wagner (PT) cedeu ao recém-criado Solidariedade duas das quatro diretorias da Bahiatursa. Até dezembro do ano passado, a estatal de turismo era comandada pelo PSB, que deixou o governo para ter candidatura própria ao governo. Para a diretoria administrativo-financeira, considerada a mais importante da Bahiatursa, foi nomeado o filho do deputado federal Marcos Medrado (SDD), Diogo Medrado. No âmbito da nossa capital, ACM Neto também não deixa por menos. Os irmãos Maurício, José e Henrique Trindade protagonizaram uma trinca política. Nesta sexta-feira (4), o deputado federal Maurício Trindade (Pros) deixou o cargo à frente da Secretaria de Promoção Social para retomar o mandato em Brasília. Em seu lugar na secretaria, ficou seu irmão, o advogado Henrique Trindade. Com as nomeações, o Solidariedade, presidido por Medrado na Bahia, deve apoiar a candidatura Rui Costa (PT), indicado por Jaques ao governo da Bahia. Já o Pros, comandado por Trindade, deve firmar apoio ao ex-governador Paulo Souto (DEM), que disputa o cargo apoiado pelo prefeito ACM Neto. Além do apoio dos deputados, a adesão dos partidos também representa tempo de propaganda eleitoral gratuita.
Alguns também podem pensar que eu esqueci do favorecimento aos grandes empresários. Políticos adoram facilitar a vida de quem já é, por natureza econômica, privilegiado. Mas confesso que a presidente Dilma Rousseff merecia um troféu por sua interpretação fantástica quando entregou o Aeroporto do Galeão para a iniciativa privada. Uso aqui as palavras do jornalista Luiz Augusto Gomes, do portal Por Escrito: “Há coisas com motivação eleitoral que não se pode suportar. Como a presidente Dilma chorar no momento em que fazia a transmissão à “iniciativa privada” da exploração – palavra mais adequada que gestão, administração, concessão ou que outras arranjem para a transferência de dinheiro público para mãos privadas – do Aeroporto do Galeão.” Ou seja, para disfarçar o entreguismo da coisa pública ao mundo privado, contrariando toda a história do seu partido, a presidente busca nas lágrimas o tempero para comover o povo, mais uma vez explorado escancaradamente. Ainda usando as palavras do jornalista: “A presidente decompõe-se em lágrimas ao conceder por 25 anos o Aeroporto Tom Jobim ao Grupo Odebrecht, e a propósito, como se posicionou Odebrecht quando a legalidade foi violentada em 64?”. E mais adiante: “Onde estavam as bilionárias empresas na hora de desbravar sertões, bancar prejuízos para estender o progresso aos mais distantes pontos, pagar por tecnologia quase inacessível, apostar incondicionalmente nos recursos humanos do país?”. Ou seja, o que o PT está fazendo é o que sempre condenou: o Estado prepara o país para que os ricos explorem o próprio país. Aí, nada muda. Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres... E, vale a pena citar o final do artigo de Luiz Augusto: “A presidente demonstra, com essa apelação desqualificada, o grau de desespero que a faz perder a vergonha ideológica, usando a repulsa ao regime militar para tentar convencer, com vista à reeleição, de coisas às quais ela deveria ser, pela sua vida, visceralmente contra.”.
Depois disso, sei que deveria terminar o artigo, mas não posso deixar de citar uma do Lula. Ele faz exatamente o que faziam os governos indecentes de outrora. Não quer ouvir falar de CPI. Quem deve, teme. As agências de notícias informam um encontro de três horas de Dilma Rousseff com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira, 4, a sós, sobre a crise política e a tentativa da oposição de instalar uma CPI da Petrobrás para fustigar o governo na campanha eleitoral. Lula avalia que o Palácio do Planalto deve fazer de tudo para segurar a CPI, considerada uma "arma" perigosa na direção de Dilma. A reunião entre a presidente e seu padrinho político ocorreu em um elegante hotel da zona sul de São Paulo e foi a primeira depois que veio à tona a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, pela Petrobrás. O negócio é investigado pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União por suspeitas de superfaturamento. Lula avalia que Dilma acabou puxando a crise para o Planalto quando disse que só votou favoravelmente à compra de Pasadena porque recebeu laudos incompletos sobre o negócio. Ou seja, era para Dilma confirmar que a compra foi ótima para a Petrobrás e repetir isso mil vezes até que o país se convença de que ela é “a cara”! Dilma, nós podemos! 
Tudo isso comprova que temos de mudar todo este modelo administrativo, econômico, político e social. Não se pode chegar ao poder para deixar tudo como estava. É imperioso mudar estas estruturas arcaicas que só favorecem ao nepotismo, à corrupção, ao mandonismo e a tantos outros males depredadores do republicanismo e da democracia. E se não houver mudança? Então assistiremos aos mesmos filmes, com os mesmo desfechos. Hoje lideram as pesquisas os ACM Netos, os Joãos Alves Filhos, líderes de um passado remoto ou filhos, ou netos, de líderes do passado. Amanhã voltarão os filhos de Lula, de Dilma, de Wagner, de Maluf, de Roseana Sarney, ou os seus netos. Continuaremos então neste ciclo desvirtuoso, acreditando que um deles possa romper com a tradição de sua família e nos livrar de vez destas desgraças seculares.