Esta semana na ISTOÉ: O mistério do brasileiro de US$ 100 milhões

Mãe, mulher e tio brigam por fortuna, enquanto polícia tenta desvendar o desaparecimento de milionário na Flórida
     Natália Martino – da revista ISTOÉ.
     Fotos: Tara Todras-Whitehill/AP Photo; Chris Bott/Splash News.
SUMIÇO
Guma Aguiar tem um histórico de internações psiquiátricas,
brigas familiares e devoção religiosa.
     As câmeras de segurança da casa de Guma Aguiar, 35 anos, que fez fortuna explorando gás nos Estados Unidos, guardaram o registro do brasileiro partindo em sua lancha do seu pequeno porto particular, em Fort Lauderdale, na Flórida, Estados Unidos, às 18h57 da terça-feira 19 de junho. A embarcação foi encontrada planando vazia e ainda ligada na madrugada do dia seguinte. Já o empresário nunca mais foi visto. O caso é envolto em mistério. “Pode ter acontecido rigorosamente qualquer coisa. Ele pode estar vivo ou morto, pode ter se suicidado ou ter sido assassinado, não temos certeza de nada”, disse à ISTOÉ o tenente Frank Sousa, responsável pela investigação, que envolve um milionário com histórico de internações psiquiátricas, uma família em permanente disputa e uma fortuna avaliada em US$ 100 milhões. Apenas dois dias depois do sumiço do brasileiro, que morava nos EUA desde os 2 anos de idade, antes mesmo de a Guarda Costeira terminar as buscas pelo corpo, a mãe de Aguiar, a americana Ellen, que também mora na Flórida, já havia entrado com pedido na Justiça para receber toda a renda gerada pelo patrimônio do filho. Em seguida, a mulher dele, a também americana Jamie, com quem teve quatro filhos, fez ação semelhante.
     Na quinta-feira 28 de junho, a Justiça da Flórida determinou que uma empresa de administração de riquezas, a Northern Trust, cuidasse temporariamente da fortuna de Guma Aguiar, que ainda nem sequer foi considerado oficialmente morto. No dia seguinte à decisão, apoiada pela mãe e rejeitada pela esposa, o advogado da mulher de Aguiar, Bill Scherer, sugeriu em uma entrevista à rede de televisão americana ABC que o milionário poderia ter forjado o próprio desaparecimento com o apoio da mãe, para se livrar de problemas conjugais, uma vez que Jamie havia falado em divórcio pouco antes do desaparecimento. O tio e ex-sócio do brasileiro, Thomas Kaplan, irmão de Ellen, já havia entrado na Justiça para pedir a preservação de todos os registros eletrônicos de comunicação entre Guma Aguiar e sua mãe, motivado pela mesma suspeita. A família brigava pela fortuna do milionário bem antes de seu desaparecimento. Em março, ele cogitou transferir o controle de seus bens à mulher. Dois meses depois, mudou de ideia e transferiu os mesmos direitos à mãe. Em resposta, Jamie fez um pedido na Justiça para ter acesso à parte do lucro do marido semanas antes de seu desaparecimento.
     Essas querelas judiciais se tornaram constantes desde 2003, quando o brasileiro encontrou uma enorme reserva de gás natural no Texas (EUA). A descoberta foi financiada por seu tio Thomas Kaplan. A Leor Energy, empresa fundada por Kaplan e administrada por Aguiar para explorar o gás, foi comprada em 2007 por uma companhia canadense por mais de US$ 2 bilhões. Tio e sobrinho não conseguiram entrar em acordo sobre a divisão desse dinheiro e a história foi parar na Justiça. Kaplan já havia sido acusado pelo sobrinho várias vezes de tentativa de assassinato, ora por envenenamento, ora por tentar atirar nele de um helicóptero. Declarações como essas renderam a Aguiar o diagnóstico de severa psicose e distúrbio bipolar, o que levantou a hipótese de ele ter simplesmente pulado do barco. O milionário apresentou sintomas de problemas psicológicos outras vezes e chegou a ser internado, em 2010, em uma clínica psiquiátrica de Israel. No seu passado conturbado também constam prisões por posse de drogas e violência doméstica. Apesar desse histórico, ele nunca foi afastado do controle dos negócios, que tocava com a assessoria de dois rabinos. Desde os 26 anos, ele seguia os preceitos do judaísmo, a religião da mãe – o pai, o artista plástico brasileiro Otto de Souza Aguiar, morreu em 2006. Por conta de sua fé, fez doações milionárias ao Estado judaico, salvou da falência um tradicional time de futebol israelense e comprou vários imóveis no país.
      Enquanto a Justiça se encarrega de dizer quem vai controlar os US$ 100 milhões de Guma Aguiar, o Departamento de Polícia de Fort Lauderdale tenta desvendar os mistérios que envolvem seu desaparecimento. Depois de rastrear uma área de 3,9 quilômetros quadrados da costa durante 70 horas, a Guarda Costeira suspendeu as buscas pelo corpo, mas segue investigando as circunstâncias do sumiço. Dentro do barco em que o milionário foi visto pela última vez, ainda estavam seu celular e sua carteira, que a polícia deixou por dias com Ellen, a mãe do brasileiro, e posteriormente recolheu como provas. “Agora estamos verificando quais foram suas últimas chamadas para saber se conseguimos alguma pista do acontecido”, afirmou o tenente Frank Sousa. Enquanto o mistério não é resolvido, a família briga pelo que lhe parece mais importante: a fortuna de Guma Aguiar.