Negromonte pede demissão e diz que nada foi provado contra ele


Ministro aguarda ser chamado a qualquer momento pela presidente Mário e diz em sua carta de demissão que a presidente Dilma sempre poderá contar com ele
GERSON CAMAROTTI e DEMÉTRIO WEBER – do jornal O GLOBO
Mário Negromonte diz em sua carta de demissão
que a presidente Dilma sempre poderá contar com ele 

André Coelho / Arquivo O Globo


 
BRASÍLIA - Depois de afirmar que estava "mais firme do que as pirâmides do Egito", o ministro das Cidades, Mário Negromonte, viu sua permanência à frente da pasta escorrer como areia em ampulheta. Na carta de demissão que deve entregar à presidente Dilma Rousseff logo mais à tarde, ele diz ser um aliado de primeira hora da presidente e sempre fiel - em uma referência a seu apoio, desde o início, à candidatura de Dilma. O GLOBO teve acesso ao texto de Negromonte, no qual ele agradece a presidente. Os dois tinham uma reunião marcada para as 11h desta quinta-feira, mas a presidente pediu o adiamento do encontro porque está muito cansada da viagem que fez a Cuba e ao Haiti, da qual retornou nesta madrugada. Segundo interlocutores, Negromonte aguarda ser chamado a qualquer momento pela presidente. O nome mais cotado até o momento para substituir o ministro no cargo é o do líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro.
Na carta, Negromonte também comentou sobre os problemas políticos que tem enfrentado e a “batalha na mídia”, mas reforça que não foi comprovado nada contra ele e, por este motivo, tem a confiança do partido e do governo. Negromonte declara também que volta para Câmara e afirma que a presidente sempre poderá contar com ele no que se refere aos projetos de desenvolvimento social do país. Ele reforça ainda que sempre se cumpriu os programas da pasta dentro do orçamento, em uma tentativa de rebater as críticas à sua gestão na pasta.
Gilberto Carvalho diz que saída de Negromonte não tira espaço do PP
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse nesta quinta-feira que o PP manterá seu espaço na Esplanada dos Ministérios, mesmo que se confirme a saída de Negromonte. Ele afirmou que a vaga do PP no primeiro escalão do governo Dilma está assegurada, mas deixou em aberto se o partido continuará à frente do Ministério das Cidades ou se vai para outra pasta. Carvalho disse que tomou conhecimento, pela imprensa, da intenção de Negromonte de entregar uma carta de demissão à presidente Dilma.
- Se ele apresentar a demissão, a presidenta vai naturalmente consultar o partido e buscar um quadro para esse ministério ou para outro que ela julgar necessário, mas o PP continuará no Ministério. Isso é muito claro e tranquilo para nós - disse Carvalho, após participar do programa de rádio "Bom-dia, ministro", na sede da Empresa Brasil de Comunicação.
O ministro afirmou que Negromonte manteve sempre "um comportamento muito companheiro", mas evitou fazer um balanço da gestão dele no Ministério das Cidades, uma vez que a saída não foi oficializada. Ele lembrou que a bancada do PP na Câmara enviou carta de apoio unânime a Negromonte em dezembro.
- As razões que estão levando o ministro (Negromonte) a tomar essa atitude são razões do foro próprio dele e não nos cabe fazer especulações - disse Carvalho.
O chefe da Secretaria-Geral da Presidência destacou a importância que o PP tem para o governo Dilma:
- O PP não é um partido qualquer. Não é um partido incidental ao governo. O PP tem sido um parceiro para nós. Temos pelo PP um grande respeito. E é, portanto, muitíssimo provável que o PP continue integrando o Ministério da presidente Dilma. Se vai continuar no Ministério das Cidades ou não, eu não posso adiantar, porque, insisto, essa é uma competência exclusiva da presidenta.
Carvalho afirmou que a indicação do sucessor de Negromonte será tarefa da presidente Dilma:
- O Brasil não é um parlamentarismo. Os ministérios respondem à presidenta e a nomeação dos ministros é de competência exclusiva da presidenta, que naturalmente consulta os partidos.
O mesmo raciocínio, segundo Carvalho, vale para o PDT e a sucessão no Ministério do Trabalho, que é ocupado provisoriamente por Paulo Roberto dos Santos Pinto.
A amigos, ministro já havia dito que ‘não aguentava mais o tiroteio’
Negromonte comunicou sua decisão ao presidente do partido, senador Francisco Dornelles (RJ), com quem tomou café da manhã nesta quinta-feira. Dornelles vai tratar com o Planalto da substituição no comando o ministério.
Nos últimos dois dias, Negromonte deixou claro aos mais próximos que não ficaria no governo. Para integrantes do seu grupo político, ele fez um desabafo e disse que “não aguentava mais o tiroteio” e que, por isso, “não tinha mais motivação para continuar”. Num jantar em sua residência, na terça-feira, ele chegou a confirmar o teor da conversa que teve com Dilma, na segunda-feira, em Salvador. Como revelou O GLOBO, nesse encontro na capital baiana Negromonte pôs seu cargo à disposição da presidente. Em dezembro do ano passado, ele já havia dito que não brigaria para continuar no cargo e que “não fica de joelhos para ninguém”.
As denúncias contra o ministro das Cidades
Em janeiro deste ano, O GLOBO publicou uma reportagem na qual mostra que o Ministério das Cidades deu preferência a emendas da Bahia, estado de Negromonte. Em novembro do ano passado, o jornal “O Estado de S. Paulo” mostrou que o Ministério das Cidades aprovou documento forjado para mudar um projeto de transporte para a Copa do Mundo de 2014, em Cuiabá, no Mato Grosso. De acordo com a denúncia, o documento foi adulterado com aval de Negromonte. Em depoimento no Senado, o ministro negou as denúncias.