As esquerdas em xeque


            Samuel Celestino
Samuel Celestino, do Bahia Notícias e de A TARDE.
Dentre os partidos tidos ou reconhecidos como ainda ideologizados o que mais desabou em credibilidade no ano que passou foi o velho PCdoB, que muito influenciou e deu ritmo a boa parte das esquerdas brasileiras durante anos a fio, especialmente no período da ditadura militar. Com a queda do império (em falência total) da União Soviética, a partir do muro de Berlim, as ideologias entraram em crise e, com elas, os partidos marcadamente ideológicos com correntes hoje absurdas, mas marcos de uma época passada, como, por exemplo, stalinistas, leninistas, trotskistas, fidelistas dentre outras ramificações.
Um mergulho no passado observa-se o quanto parte da juventude mundial se equivocou com o comunismo soviético, que só ficou ao sol depravadamente exposto quando o império e seus satélites ruíram. O grande símbolo e ídolo romântico das esquerdas, em especial latino-americanas, Che Guevara, pouco a pouco envelhece na medida em que Cuba demora em arejar seu sistema. O comunismo cedeu lugar ao ambientalismo de hoje, no redesenho do mundo. As palavras ianque e imperialismo também ficaram para trás com a grande mudança. Acreditei e ainda acredito no socialismo, nunca no comunismo totalitário implantado em boa parte do mundo. Nada é mais perfeito do que a liberdade.
No Brasil, com a queda do muro de Berlim e a nova Constituição de 1988 que  sofreu a influência das ideologias, os partidos políticos mudaram de tom e ritmo. Principalmente de crenças e verdades esmaecidas. O velho PCB, o “partidão” idealista e utópico, mudou de nome para PPS, arejando-se. O PT, com viés de esquerda na sua primeira década de vida, se afogou nas benesses do poder conquistado, enquanto os partidos à direita deram uma guinada ao centro. Ganhou força o Partido Socialista, o PSB, presidido por Eduardo Campos, governador de Pernambuco, liderado na Bahia pela senadora Lídice da Mata. A legenda sempre adotou uma linha amena, como é exemplo o grande baiano João Mangabeira, irmão de Octávio. Até agora, pelo que se sabe, não se deixou inocular pelo vírus da corrupção, pela gatunagem sórdida, em muitos casos protegida pelo Poder instalado.
Os partidos mais atingidos foram o PT, dono do poder, e o PCdoB, aliado da base, que embora pequeno e com poucos votos no País, em comparação com os demais, mergulhou na farra dos “malfeitos”, no eufemismo de Dilma, fugindo do uso da palavra certa: corrupto, corrupção, corromper, gatuno de sorte a não magoar os seus aliados da coalizão. Citei os dois partidos acima por terem história. O PR é um abrigo de adesistas e o PTB de há muito, desde Ivete Vargas em conluio com o general Golbery do Couto e Silva, bruxo da ditadura, deixou de ter o significado que lhe deram Getúlio Vargas e Leonel Brizola.
Debruçar sobre um assunto com este para discutir o que foi feito com a antiga esquerda - que acabou no Irajá, como Greta Garbo - é um convite à polêmica no que não pretendo mergulhar. Porque ainda existem, e muitos, os comunistas que ainda seriam capazes de apostar na “visão democrática” do camarada Stalin, o maior carniceiro da União Soviética. Esses ainda vibram com a Coréia do Norte.
O PCdoB, pesarosamente, deixou cair a máscara no silêncio que fez enquanto os seus ministros, aboletados no Ministério do Esporte se lambuzavam no melaço. Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal, quase não respira: do seu palácio exala mau cheiro com o envolvimento em atos corruptos que atingem também parte do seu secretariado, além de familiares, pelo que se supõe. O seu sucessor, Orlando Silva, como se observou no ano passado, desabou. Mas saiu do ministério como herói. A militância do pecêdobê fez festa, regida pela presidente Dilma Rousseff no ato de sua saída. Agnelo ainda resiste, mas resiste por fragilidade da Justiça brasileira e dos trâmites dos processos e das apurações dos atos de corrupção, tudo dentro da normalidade do rito processual deste Pindorama do sem jeito.
Reproduzido do Jornal A TARDE.