Maioria dos eleitores disse 'não' à criação de Tapajós e
Carajás e muitos lamentam a oportunidade perdida de levar progresso a regiões
eternamente abandonadas. Resultado do plebiscito encerra trâmite para a divisão
do estado.
Gabriela Gasparin - do G1, em Belém
Os resistentes à divisão do Estado do Pará comemoram vitória em Belém |
Os eleitores paraenses decidiram, em plebiscito realizado
neste domingo (11), manter o estado do Pará com o território original, segundo
informou às 20h08 o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Ricardo Nunes. A
confirmação do resultado foi dada com 78% de urnas apuradas, duas horas depois
do término da votação. "Diante do cenário atual, matematicamente, os
eleitores do estado do Pará decidiram pela não divisão", afirmou o
presidente do TRE paraense. A apuração foi concluída por volta de 1h20 desta
segunda (horário de Brasília). Com 100% das urnas apuradas, o resultado indicou
que 66,59% escolheram "não" para a criação do estado de Carajás e
66,08% rejeitaram a criação do estado de Tapajós. A apuração terminou por volta
da 1h20 (horário de Brasília) desta segunda-feira (12) e o resultado final foi
de 66,6% votos para o "não" à criação do estado de Carajás e 66,08%
contra a formação do estado de Tapajós.
Foram apurados os votos das 14.249 urnas do estado. A
abstenção foi de 25,71% do eleitorado paraense. Do total apurado em relação a
Carajás, pouco mais de 1% era de votos nulos e 0,41% de brancos. Em relação a
Tapajós, 1% foi de votos nulos e 0,49% de votos. Os eleitores responderam a
duas perguntas "Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação
do estado de Carajás?" e "Você é a favor da divisão do estado do Pará
para a criação do estado do Tapajós?". O número 77 correspondeu à resposta
"sim" para qualquer uma das perguntas. E o número 55 foi usado para o
"não". Com a decisão das urnas, o trâmite para a divisão do estado se
encerrou junto com o plebiscito. Dessa forma, a Assembleia Legislativa paraense
e o Congresso Nacional não precisarão analisar a divisão do território e
criação dos novos estados. Resultado parcial do TRE do Pará, de 21h20 (horário
de Brasília), indicava que as possíveis capitais de Carajás e Tapajós - caso
ocorresse a divisão - votaram pela divisão. Marabá (Carajás), com 70,57% das
urnas apuradas, tinha 93,26% de 'sim' para a divisão, e Santarém (Tapajós), com
100% de urnas apuradas, tinha 98,63% para dividir. Belém, no entanto, com
99,96% de urnas apuradas, tinha 93,88% para o 'não' em relação à criação de
Tapajós e 94,87% de 'não' para Carajás.
'Forma eficiente'
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro
Ricardo Lewandowski, comemorou a rapidez na divulgação do resultado parcial do
plebiscito cerca de duas horas após o encerramento da votação. "Penso que
não apenas a cidadania está madura do ponto de vista cívico, mas a tecnologia
eleitoral brasileira está muito avançada, conseguimos apurar o resultado
matematicamente consolidado em duas horas depois do fechamento das urnas. Hoje
foi um teste importante e verificou-se que o povo pode ser consultado
rapidamente de forma eficiente e econômica", disse. Para Lewandowski, o
percentual de abstenção (25,4% às 20h11 - horário de Brasília) está dentro da
normalidade. "Os índices de abstenção são relativamentes pequenos em um
país de dimensões continentais. Acredito que a democracia no Brasil está
consolidada", completou o presidente do TSE.
Votação
A votação começou às 8h, em mais de 14 mil seções eleitorais
do estado do Pará. Os eleitores responderam a duas perguntas "Você é a
favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado de Carajás?" e
"Você é a favor da divisão do estado do Pará para a criação do estado do
Tapajós?". O número 77 correspondeu à resposta "sim" para
qualquer uma das perguntas. E o número 55 foi usado para o "não". Em
277 locais considerados de difícil acesso, a votação foi feita em urnas ligadas
a baterias, que transmitiram os votos via satélite. Durante todo o dia, mais de
três mil militares do Exército reforçaram a segurança em 16 cidades do Pará,
incluindo os municípios de Santarém e Marabá, que seriam as capitais dos novos
estados. Os outros municípios que contaram com segurança foi Altamira, Brasil
Novo, Monte Alegre, Alenquer, Óbidos, Juriti, Oriximiná, Santana do Araguaia,
São Félix do Xingu, Redenção, Tucumã, Orilândia do Norte, Bacajá e Anapu.
Ausência
Os eleitores que não compareceram para votar terão 60 dias
para justificar a ausência nas zonas eleitorais em que estiveram inscritos.
Mesmo se tratando de um plebiscito, as exigências são as mesmas para eleições
regulares. Quem deixou de votar e não apresentou a justificativa será multado e
pode ter o título de eleitor cancelado.
Beto Barbosa que sair do Pará
Beto Barbosa: "Não podemos ser egoístas e impedir que pessoas cresçam!" |
O cantor Beto
Barbosa, nascido no Pará – que estava esquecido, mas voltou à mídia após
campanha publicitária de uma cervejaria –, revoltou-se com a vontade da
população do estado de manter-se unida no mesmo território. De acordo com
informações do UOL, Beto Barbosa ficou revoltado com o resultado do plebiscito
e prometeu tirar seus familiares do Pará. “Na primeira oportunidade que eu
tiver, vou tirar minha família de lá. Saí do Pará há 25 anos e há 20 anos não
faço show lá, nem por R$ 1 milhão. Não podemos ser egoístas e impedir as
pessoas de crescerem”, irritou-se. “Se Tapajós e Carajás virassem Estado iam
crescer e mudar aquela situação de total carência das pessoas que moram naquela
região. É inadmissível saber que existem pessoas que ainda moram em palafitas,
sem banheiro, sem médicos e tem de enfrentar dias de barco, doentes para um
socorro, que muitas vezes não têm”, disse o artista. A cantora Fafá de Belém,
porém, comemorou.
Separatistas culpam Duda Mendonça
Contratado pelos separatistas que lutavam para a criação do
estado de Carajás, o publicitário baiano Duda Mendonça foi responsabilizado
pelos separatistas que queriam criar Tapajós pela derrota no plebiscito
realizado neste domingo (11) no Pará. Os líderes do Tapajós criticaram a
decisão de unificar as campanhas sugeridas por Duda, que morou no último mês em
um hotel de luxo em Belém. Ele possui terras no Carajás e diz ter trabalhado
sem cobrar cachê. Segundo matéria do jornal Folha de S. Paulo, o marqueteiro
exigiu, porém, que a campanha contratasse a sua equipe. A prefeita de Santarém,
Maria do Carmo (PT), reclamou que a criação do Tapajós poderia ter vencido se
marchasse sozinha, pois enfrentava menor rejeição que a criação do Carajás na
região de Belém. Ela chamou de equívoco a campanha não ter mostrado em detalhes
as diferenças entre as regiões.
Com informações complementares do Bahia Notícias.