Reportagem de VEJA revela viagem oficial do ministro
do Trabalho em companhia de caciques do PDT e de um dos principais acusados de
desviar verba de convênios com a pasta. A ONG depois ganhou contrato no
Ministério.
Carlos Lupi: "Sou osso duro de roer!" |
A revista
VEJA desta semana mostra que o ministro do Trabalho e presidente licenciado do
PDT, Carlos Lupi, terá mais uma oportunidade de mostrar que é um "osso
duro de roer". Reportagem de VEJA desta semana mostra que, em
dezembro de 2009, o ministro cumpriu agenda oficial usando um avião
privado, alugado pelo dono de uma rede de ONGs. Pior: o dono de ONGs integrou a
comitiva e, meses depois, ganhou um contrato (entre outros que já detinha,
alguns deles investigados por irregularidades) para atender a projetos da pasta
de Lupi na mesma região visitada com a aeronave. Como diz a reportagem,
"mais uma daquelas clássicas confraternizações entre interesses públicos e
privados, cuja despesa acaba sempre pendurada na conta do contribuinte".
Em
dezembro de 2009, Lupi percorreu sete municípios do Maranhão para o lançamento
de um programa de qualificação profissional no estado. Viajou a bordo de um
King-Air branco com detalhes em azul, prefixo PT-ONJ, na companhia de três
pedetistas e um convidado especial. Os pedetistas eram o ex-governador do
estado Jackson Lago, já morto; o então secretário de Políticas Públicas de
Emprego, Ezequiel de Sousa Nascimento; e o então assessor de Lupi e hoje
deputado federal Weverton Rocha. O convidado especial era Adair Meira, que
chefia uma rede de ONGs conveniadas com o ministério. Foi ele, interessado
direto no périplo de Lupi, quem 'providenciou' o avião.
Como é o nome? - Na semana passada, VEJA revelou que caciques do PDT comandados por Lupi
transformaram os órgãos de controle da pasta em instrumento de extorsão.
As denúncias levaram o ministro a prestar esclarecimentos ao Congresso, onde
afirmou desconhecer Adair: "Eu não tenho relação nenhuma com o - como é o
nome? - seu Adair." Lupi afirmou também nunca viajar em aviões
particulares. Mas esqueceu de combinar a versão com seus antigos assessores. A
VEJA, Ezequiel Nascimento confirmou a presença de Adair nos
voos e foi taxativo ao apontar quem bancou o giro pelo Maranhão: "O Adair."
Procurado
por VEJA, Weverton Rocha confirma que o avião foi alugado para servir à agenda
oficial do ministro, mas diz que quem pagou por isso foi o PDT. Sua versão não
faz sentido, dado que era uma viagem oficial do ministro. Ainda que fizesse, é
um absurdo do ponto de vista ético. De resto, não explica o
que Adair fazia no voo. No esquema de extorsão revelado por VEJA,
Weverton é apontado o responsável por fixar os valores da propina cobrada
das ONGs.
Competência - Indagado sobre o caso, Adair diz que
nunca viajou no mesmo avião que Lupi, que não tem qualquer relação com o
ministro e que suas ONGs são escolhidas pelo ministério por critérios de
competência. Entre as ONGs de Adair estão a Fundação Pró-Cerrado e a
Renapsi. Desde 2008, elas já receberam 10,4 milhões de reais do ministério.
Tanta competência ainda não
convenceu a Controladoria-Geral da União. Ao passar um pente-fino nos
contratos, a CGU encontrou irregularidades de todo o tipo e apontou: "não
foi demonstrada nenhuma providência para superação das falhas". A
Procuradoria da República já pediu a devolução dos recursos embolsados pelas
entidades de Adair.