Fernando Vives – Artigo publicado em CARTA CAPITAL.
Add caption"A política foi capturada pelo sistema financeiro", diz Belluzzo. Foto: Agência Brasil. |
“Uma vez, há muito tempo, eu disse a
Ulisses Guimarães que estava preocupado com o nível dos parlamentares no
Congresso Nacional. E ele me respondeu: ‘Você não viu nada ainda, aguarde’”.
Essa frase, citada por Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e conselheiro
editorial da CartaCapital, resume parte dos motivos de o Brasil precisar de uma
ampla reforma política. Belluzzo a citou durante o encontro Caminhos
Estruturais, organizado pelo Fórum de Líderes Empresariais, em São Paulo, na
sexta-feira (11), organizado para discutir o tema.
Belluzzo debateu sugestões para a
reforma ao lado do empresário Ricardo Young, candidato a senador pelo PV na eleição
passada, e do sociólogo Luiz Felipe D´Ávila, diretor-presidente do CLP (Centro
e Liderança Pública). O economista ressalta a necessidade de fazê-la em um
momento em que, ao seu ver, a política mundial gera insatisfações múltiplas em
vários países do mundo. “Quem tem poder, vai usá-lo, e a política tem ficado
cada vez mais refém da economia, sobretudo a financeira. A política foi
capturada pelo sistema financeiro, então deixa de responder pelos anseios da
população. O (movimento) Occupy Wall Street surgiu daí”, diz.
A discussão sobre a reforma política no
Brasil existe há vários anos e segue empurrada com a barriga na Câmara dos
Deputados. A partir dela seria modificada parte da estrutura de governança e,
consequemente, das eleições brasileiras. O projeto que está para ser discutido
tem aproximadamente 200 emendas de parlamentares. Ou seja: virou um monstro do
Doutor Frankenstein. “Nestes moldes, nunca vamos aprovar uma reforma política
neste País”, diz Luiz Felipe D´Ávila.
Ricardo Young, que era aliado à Marina
Silva e que recentemente se filiou ao PPS, criticou em especial o formato do
horário eleitoral gratuito na tevê. “É ridículo que se distribua o tempo de
tevê pelo tamanho da bancada na Câmara Federal. Tem candidato com um minuto pra
falar e outro com dez, e ambos disputam a mesma vaga. Nas eleições
majoritárias, não pode haver diferença de tempo”.
O ex-candidato a senador também
ressalta o alto gasto que os políticos têm em campanha eleitoral. “Além do
atual formato anti-democrático, os candidatos correrem atrás de muito dinheiro
para fazer filmes de qualidade Globo no horário eleitoral, e não debateres as
propostas. E para isso precisam de muito mais dinheiro que precisariam”,
afirma.
Young conclui revelando certa descrença
na reforma política. “É um imbróglio, uma macarronada das mais indigestas. São
mais de 200 emendas que o Congresso não vai votar”. Pelo andar da carruagem, o
empresário segue com a razão: o projeto deveria ter sido debatido na Câmara dos
Deputados na quarta-feira (9). Foi adiado novamente.