Segundo IBGE, receita média mensal per capita do brasileiro
é de R$ 668, entretanto, dados indicam que metade da população recebia até R$
375, inferior ao salário mínimo do período
Luciana Nunes Leal e Felipe
Werneck – de O Estado de São Paulo.
Embora pesquisas apontem quedas
sucessivas na desigualdade de renda no Brasil, dados do Censo 2010 divulgados
nesta quarta, 16, mostram que os 10% mais ricos no País têm renda média mensal
trinta e nove vezes maior que a dos 10% mais pobres. Ou seja, um brasileiro que
está na faixa mais pobre da população teria que reunir tudo o que ganha (R$
137,06) durante três anos e três meses para chegar à renda média mensal de um
integrante do grupo mais rico (R$ 5.345,22).
Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), os 10% mais pobres ganhavam apenas 1,1% do total
de rendimentos. Já os 10% mais ricos ficaram com 44,5% do total. Outro recorte
revela o rendimento médio no grupo do 1% mais rico: R$ 16.560,92. Os dados
valem para a população de 101,8 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais de
idade e algum tipo de rendimento em 2010. A renda média mensal apurada foi de
R$ 1.202. Levando-se em conta os habitantes de todas as idades, o IBGE calculou
a renda média mensal per capita de R$ 668. O Censo indica, porém, que metade da
população recebia até R$ 375 por mês, valor inferior ao salário mínimo oficial
em 2010 (R$ 510).
O IBGE também mostra que as
cidades de porte médio, com população entre 10 mil e 50 mil habitantes, foram
as que apresentaram a maior incidência de pobreza. Enquanto a proporção de
pessoas que viviam com até R$ 70 de rendimento domiciliar per capita era, em
média, de 6,3% no Brasil, nos municípios de 10 mil a 20 mil habitantes esse
porcentual era o dobro (13,7%), com metade da população nessas cidades vivendo
com até meio salário mínimo per capita. Já nas cidades com população superior a
500 mil habitantes, menos de 2% recebiam até R$ 70 per capita e cerca de um
quatro (25%) vivia com até meio salário mínimo de rendimento domiciliar per
capita.
Entre as capitais, segundo o
IBGE, manteve-se a tendência de melhores níveis de rendimento domiciliar per
capita nas regiões Sul e Sudeste. O maior valor (R$ 1.573) foi registrado em
Florianópolis (SC), onde metade da população recebia até R$ 900. Em 17 das 26
capitais, metade da população não recebia até o valor do salário mínimo. Entre
as capitais, a pior situação foi registrada em Macapá: rendimento médio
domiciliar per capita de R$ 631, com 50% da população recebendo até R$ 316. A
capital do Amapá também ficou com a maior proporção de pessoas com rendimento
domiciliar per capita de até R$ 70 (5,5%) e até um quarto de salário mínimo
(16,7%). No Sudeste, o Rio registrou os maiores porcentuais de pessoas nessas
condições (1,1% e 4,5%, respectivamente). Os melhores indicadores foram
observados em Florianópolis (SC): 0,3% da população com rendimento médio mensal
domiciliar de até R$ 70 e 1,3% com até um quarto do salário mínimo.
No Brasil, os rendimentos médios
mensais dos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) se aproximaram do dobro do
valor relativo aos grupos de pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) ou indígenas (R$
735). Entre as capitais, destacaram-se Salvador, com brancos ganhando 3,2 vezes
mais do que pretos; Recife (3,0) e Belo Horizonte (2,9). Quando analisada a
razão entre brancos e pardos, São Paulo apareceu no topo da lista, com brancos
ganhando 2,7 vezes mais, seguida por Porto Alegre (2,3).
Os homens recebiam no País em
média 42% mais que as mulheres (R$ 1.395, ante R$ 984), e metade deles ganhava
até R$ 765, cerca de 50% a mais do que metade das mulheres (até R$ 510). No
grupo dos municípios com até 50 mil habitantes, os homens recebiam, em média,
47% a mais que as mulheres: R$ 903 contra R$ 615. Já nos municípios com mais de
500 mil habitantes, os homens recebiam R$ 1.985, em média, e as mulheres, R$
1.417, uma diferença de cerca de 40%.
Emigração. Pela primeira vez, o IBGE perguntou às famílias no Censo
se havia alguma pessoa morando no exterior. Com base nesses dados, foi traçado
um perfil dos emigrantes. Os EUA aparecem como principal lugar de atração de
brasileiros (23,8%), seguido por Portugal (13,4%), Espanha (9,4%), Japão
(7,4%), Itália (7%) e Inglaterra (6,2%). O número estimado pelo IBGE de
brasileiros residentes no exterior foi de 491.645, espalhados em 193 países do
mundo em 2010.
O resultado não inclui os
domicílios em que todas as pessoas podem ter emigrado e também aqueles em que
os familiares residentes no Brasil podem ter falecido. O IBGE informa na
publicação que o número de brasileiros no exterior "é uma das questões
mais controversas quando o tema migrações internacionais é abordado". De
acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o total pode chegar a 3,7
milhões de pessoas.
Segundo os dados do Censo, a
origem de 49% dos emigrantes brasileiros foi a região Sudeste, principalmente
São Paulo (21,6%) e Minas (16,8%), respectivamente primeiro e segundo Estados
de onde mais saíram pessoas. Os EUA foram o principal destino da população
oriunda de todos os Estados, especialmente Minas Gerais (43,2%), Rio de Janeiro
(30,6%), Goiás (22,6%) e São Paulo (20,1%). O Japão foi o segundo país que mais
recebeu os emigrantes de São Paulo (20%). Já Portugal apareceu como segunda
opção da emigração originada no Rio (9,1%) e em Minas (20,9%).
Goiás foi o Estado de origem da
maior proporção de emigrantes (5,92 pessoas para cada mil habitantes), seguido
de Rondônia (4,98 por mil), Espírito Santo (4,71 por mil) e Paraná (4,39 por
mil). Os municípios com as maiores taxas de emigrantes internacionais (por mil
habitantes) ficam no entorno de Governador Valadares (MG). Sobrália, São
Geraldo da Piedade e Fernandes Tourinho, todas em Minas, foram as cidades
brasileiras com maiores proporções de emigrantes (88,85 por mil habitantes;
67,67 por mil; e 64,69 por mil, respectivamente). O Censo indica que a
emigração internacional ocorre principalmente na faixa de 20 a 34 anos (60%) e
entre mulheres (53,8%).