Arredio a entrevistas, o cantor Raimundo Fagner
rompeu o silêncio e fez uma revelação bombástica ao blog do jornalista Magno
Martins, afirmando que o ex-presidente Lula foi
“cafajeste” com o seu amigo Ciro Gomes.
Amigo íntimo do ex-ministro Ciro Gomes,
a quem já emprestou o seu talento em campanhas políticas, Fagner acha que ele
(Ciro) caiu numa armadilha do ex-presidente Lula, quando este o influenciou a
transferir o domicílio eleitoral para disputar o Governo de São Paulo e em
seguida o abandonou.
A entrevista foi concedida sábado (12)
passado, à sombra de um cajueiro na Pousada de Brotas, em Afogados da
Ingazeira, a 386 km do Recife, minutos antes de o cantor cearense fazer um show
na festa em homenagem ao compositor José Dantas, em Carnaíba, cidade vizinha.
Confira.
Como vê hoje o cenário da política nacional com a demissão de tantos
ministros por corrupção?
Isso é o retrato da política no Brasil, que vem empurrando tudo com a barriga.
O loteamento de cargos, as coligações que se fazem para chegar ao poder, tudo
isso representa uma prática que a gente vem tendo aqui no Brasil muito forte e
que impede que pessoas mais credenciadas possam assumir determinados cargos.
Não se escolhem pessoas competentes, porque a prioridade é política. Só uma
reforma política, talvez, fosse capaz de corrigir esse erro, que é muito grave.
No Brasil, os partidos vão tomando conta dos cargos e termina acontecendo o que
está acontecendo aí (as demissões dos ministros), o que, convenhamos, da forma
que observamos e constatamos, é uma grande vergonha.
Trata-se de uma herança maldita de Lula?
Com certeza! É uma herança do Lula, não
só isso, mas tantas outras coisas. Agora, esse momento da Copa é também uma
herança do Lula. Talvez ele, por estar no final de mandato, tenha deixado de
negociar com a Fifa. Do jeito que a Fifa, impondo. E ele mesmo não mais aí para
defender os pontos que são necessários. Até porque nós somos o País do futebol
e temos que ter certa prioridade. A Fifa não é dona de tudo. Essa estória está
muito muito mal contada. A Fifa atropela em todo canto, com exceção de alguns
países. Aqui, no Brasil, é muito difícil, porque já está muito em cima e talvez
o Lula tenha aberto essa porteira. A Dilma vai ter dificuldade para botar a
casa em ordem e dar os direitos que o povo brasileiro tem para assistir a uma
Copa do Mundo. Corremos o risco de termos no Brasil a Copa do estrangeiro.
Falando em Copa do Mundo, Fortaleza, a capital do seu Estado, ganhou o
direito de sediar os jogos da seleção brasileira. O que pesou mais nisso?
Eu acho que, primeiro, a influência
política.
Tem tudo a ver com a amizade do Ciro Gomes com Ricardo Teixeira?
Olha, o Teixeira é amigo, primeiro lá
atrás, do Tasso (Jereissati), de colégio no Rio. Meu irmão, Fares, que foi
presidente da Federação Cearense de Futebol durante muitos anos, sempre teve um
relacionamento muito estreito e de muito respeito com Ricardo. Teixeira sempre
privilegiou as gestões de Fares no Ceará. O Cid também tem feito um papel
extraordinário em conduzir aquilo que a Fifa determina que é necessário.
Portanto, nós estamos adiantados no estádio e num Estado em grande
desenvolvimento e visibilidade turística, além da proximidade com a Europa. Tem
também a relação política e futebol que o Ricardo sempre teve com o Estado do
Ceará. Isso vem não é de agora, vem do Tasso, vem da gestão do Fares, meu
irmão, e do que Cid está fazendo, tanto que o nosso estádio é o mais adiantado
e isso é muito bom para o Nordeste. O privilégio sempre foi de São Paulo e Rio,
Rio Grande do Sul, Minas Gerais. E a gente daqui não tem que ficar com picuinha
tipo por que o Ceará? Enfim, temos que ficar felizes por ser uma cidade do
Nordeste.
O senhor acha que Lula tratou bem o Nordeste? E a Dilma vem dando o
mesmo tratamento?
Eu não sei, porque não estou acompanhando o Governo Dilma. Lula deu muita
prioridade ao Nordeste, principalmente aqui para Pernambuco. O governador
Eduardo Campos ganhou muito com isso. Eu acho que ele poderia ser um pouco
menos tímido. Talvez seja ainda as asas do Lula que abrandam nas suas costas,
mas acho que ele deveria ser um pouco mais aguerrido.
Eduardo seria um bom candidato a presidente?
É um menino extraordinário, mas para
isso não deve ficar muito quieto. Ele tem que mostrar um pouco as opiniões
dele, que ninguém conhece ainda no Brasil. Nós sabemos que ele é um bom gestor,
que Pernambuco está num momento muito bom também. Isso, provavelmente
favorecido pelo carinho que Lula tem com ele e com a sua terra natal. Acho que
falta um pouco mais para ele se apresentar para o jogo do “buscar a bola” e não
ficar só recebendo. Jogo é jogo, você não pode só ficar recebendo bola boa, tem
que sair a campo né? Não tão como Ciro, que é um cara mais despojado, tem a
opinião solta, a língua solta. Mas ele pode também se deslocar, porque no
futebol é aquele negócio, quem pede tem a preferência.
Quando o senhor diz que o Ciro tem a língua solta é uma crítica ao seu
estilo de falar demais e na hora errada?
O Ciro fala coisas necessárias, só que a
mediocridade da nossa política não permite isso. A gente vive ao lado de um
bando de corruptos que não diz nada e quando alguém diz reclama. O Ciro é um
cara muito autêntico, um cara de personalidade, tem uma história política
extraordinária, muitos cargos, ministro, governador, prefeito e ele tem essa
condição de falar a hora que quer. Eu acho que se fosse mais esperto, se fosse
mais malandro (mas ele é puro e sincero), não cairia nessa armadilha do Lula de
levá-lo para trocar o seu domicílio eleitoral para São Paulo. Lula fez um mal
horrível ao Ciro. Eu acho que o Lula foi terrível com o Ciro, não correspondeu
ao que o Ciro fez com ele. Na hora em que o Lula precisou do Ciro, num primeiro
momento, o Ciro foi e priorizou o Lula para poder contribuir com o País, mudou
de lado no seu projeto político e levou um belo drible do Lula. O Lula nessa
situação foi um cafajeste e Ciro, otário.
Em relação ao PSB, o senhor elogiou o governador Eduardo Campos, mas o
Ciro é um grande concorrente de Eduardo para presidente da República dentro do
seu partido, no caso o PSB...
Com certeza! Mas, para isso, o Eduardo
precisa se mostrar mais ao País. O povo já conhece o Ciro no que ele sabe fazer
de bom e também aonde ele se perde. E Eduardo as pessoas precisam conhecer mais
para ele chegar lá. É aquela velha estória de esperar o cavalo passar selado e
montar na hora certa. Ele tem uma ligação com Aécio, o Ciro também tem. O fato
é que o quadro político no Brasil ainda está muito confuso.
Como artista, o senhor se sente frustrado com o tratamento que o
Governo tem dado à classe. Esperava mais do Governo?
O bom cabrito não berra. Eu não dependo
muito do Governo. Na minha profissão sempre fui muito autônomo. Eu nunca pedi
incentivo fiscal e nunca fiz nada buscando o Governo, porque eu sempre tive
grande público que sempre me prestigiou, que enche meus shows. Eu acho que quem
precisa mais do Governo são os artistas que têm mais dificuldades, que estão
começando a carreira, aqueles dos estados mais pobres do Brasil, onde a cultura
precisa ser mais incentivada e que precisam ter mais investimentos. Eu sempre
me senti assim. Acho até horrível ver um artista de nome pegando dois, três
milhões do Governo para seus projetos, isso é ridículo, porque esses já
conquistaram seu público e têm condições de ganhar dinheiro. Então, eu nunca
corri atrás de dinheiro de Governo e por conta disso não fico sabendo muito
quais são os avanços. Eu sei que na minha área tem um avanço que a gente busca
através da PEC 098, que diminui a carga tributária para que se possa trabalhar
com mais condição e possa se enfrentar a pirataria que é nefasta. Mas ela
existe para todos os tipos de produtos no Brasil. É uma questão de Polícia
Federal no contexto da sociedade. Essa PEC poderá facilitar muito a busca de
produções, a diminuição dos impostos que são muitos para todas as categorias.
Agora, eu não acho que seja correto um artista pedir muita grana pra fazer seus
projetos, principalmente aqueles que já tem o sucesso garantido e por isso as
condições de ganhar dinheiro.
O senhor não faz campanha para políticos?
Faço e já fiz muitas, principalmente no
Ceará, onde sou muito amigo do Ciro e do Tasso Jereissati. Já cantei também em
Minas para o Aécio Neves, que fez uma parceria comigo numa ONG que abri no
Ceará. Isso não significa, entretanto, envolvimento direto com a política nem
compromisso direto com político A ou B. Eu sou um artista crítico em relação à
postura dos políticos brasileiros, que deixam muito a desejar. O tempo passa e
não vemos mudanças para melhor no País. Temos agora uma safra de bons
políticos, como o próprio Aécio, o Ciro e o Eduardo, este ainda bastante
desconhecido e que precisa dizer ao País o que pensa sobre o Brasil, saindo de
Pernambuco, onde acompanho a boa avaliação do seu governo.
O senhor é feliz?
Sim, pelo que faço. O homem tem que
fazer o que gosta. Meu trabalho tem uma identidade muito forte com o povo
brasileiro, daí o sucesso pelo País inteiro. Sou feliz e resolvido. Quando subo
num palanque e vejo o povo emocionado acompanhar as minhas canções românticas
me sinto plenamente realizado.
E sua relação com a fama e o público?
Natural. Sou daqueles artistas que
compreendo perfeitamente o sentimento e alma das pessoas. Dou autógrafos,
abraços, converso com o povo, ou seja, não tenho distanciamento dos fãs, que
são a razão e o objetivo do trabalho de todo e qualquer artista.
Pensa em um dia largar a música e disputar um mandato eletivo?
Não, a política brasileira está num
nível execrável. Com raras exceções, os políticos brasileiros não sabem honrar
o voto do povo. Não tenho vocação para político. Sou um artista que canta o que
o povo quer ouvir, que emociono corações. Não vejo que contribuição poderia dar
ao País num momento em que a política se deteriorou tanto.
Muitos sonhos ainda ou o projeto de se recolher na casa que o senhor
tem na beira do Orós, no Ceará?
Não tenho projeto para me isolar no
campo, indo para um refúgio como a minha casa em Orós, minha cidade, que adoro.
Quero continuar soltando a minha voz e tenho projetos pela frente, como
participar de competições internacionais de corrida. Adoro correr e jogar bola,
praticar esportes. Não quero chegar ao final da minha jornada sem participar de
uma grande maratona mundial de corrida.
Fonte: Magno
Martins/ Blog do Magno. Reproduzido do portal Interior da Bahia.