Como o ex-nanico PCdoB instalou-se no centro do poder e
tornou-se um foco de escândalos no governo Dilma
MARIANA SANCHES E RICARDO MENDONÇA – Revista ÉPOCA – 24 de
Outubro de 2011.
Orlando Silva na posse de Dilma |
O Brasil sempre foi o país do futebol. Na última década,
tornou-se também o país do petróleo e das Olimpíadas. Nas três categorias,
reina um partido que saiu da clandestinidade nos anos 1980 para se acomodar no
centro do projeto petista de poder. Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva
nas eleições presidenciais de 2002, o PCdoB foi recompensado por ter sido a
única legenda, além do PT, a apoiá-lo em todas as suas tentativas de chegar ao
Palácio do Planalto. Desde 2003, lideranças comunistas comandam o Ministério do
Esporte e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), instâncias fortalecidas após a
escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e com a
descoberta dos campos da camada pré-sal. Com o poder, veio a responsabilidade,
seguida de denúncias de cobrança de propinas e desvio de recursos. Diante das
mais graves suspeitas de corrupção de sua história, o PCdoB se defende em bloco
e tenta não ser reduzido a um pastiche dos ideais da esquerda que sempre disse
defender.
No Partido Comunista do Brasil, a regra é um por todos e
todos por um. “O princípio básico da organização do PCdoB é o centralismo
democrático (...) para a construção das orientações partidárias sob um único
centro dirigente e no qual as decisões tomadas são válidas para todos”, diz a
legenda nos documentos em que se define. Na crise que levou Orlando Silva às
manchetes dos jornais devido a denúncias de desvio de dinheiro no Ministério do
Esporte, seus quadros demonstram seguir à risca essa orientação. Numa mostra
notável de disciplina e fidelidade, muitos foram à mídia e aos palanques para
fazer a defesa enfática do ministro.
“Acompanho sua trajetória desde os 16 anos de idade, desde
quando liderava a nossa juventude. O senhor já abriu seus sigilos, fiscal e
telefônico. Não tem mais que falar. Se o réu tem o que dizer, vá à PF, mostre
as provas”, disse a deputada Manuela D’Ávila, pré-candidata à prefeitura de
Porto Alegre. “O PCdoB está consciente de que é alvo de uma farsa de forças
reacionárias e anticomunistas”, afirmou Nádea Campeão, presidente do diretório
paulista. “O povo conhece o trabalho do ministro Orlando Silva e respeita as
vitórias que ele vem ajudando o Brasil a alcançar”, disse o deputado federal
Chico Lopes (CE).
A necessidade de defender um de seus principais quadros é
uma realidade nova para um partido que esteve à margem do poder ao longo da
maior parte de sua história. Criada em 1962 depois de um racha no antigo
Partido Comunista Brasileiro, de 1922, a legenda passou décadas na
clandestinidade. Nos anos 1970, patrocinou a Guerrilha do Araguaia, no sul do
Pará, onde perdeu 60 militantes. Engrossou a campanha pelas eleições diretas
para a Presidência, nos anos 1980, e até hoje ostenta a foice e o martelo. Ao
mesmo tempo que faz alianças com ruralistas, kassabistas e sarneyzistas,
continua reverenciando Marx e Lênin. Vive, segundo a descrição encontrada em
seu site, “uma das fases mais ricas” de sua história.