Veja a história destas três
mulheres que lutam por um mundo cada vez mais justo e democrático.
O Prêmio Nobel da Paz foi concedido
nesta sexta-feira conjuntamente pela primeira vez em sua história a três
mulheres: duas liberianas - a presidente Ellen Johnson Sirleaf e a militante
pacifista Leymah Gbowee - e uma iemenita, a jornalista e ativista da Primavera
Árabe Tawakkul Karman.
A organização de defesa dos direitos
humanos Human Rights Watch saudou nesta sexta-feira de Nova York a decisão do
Comitê Nobel de conceder seu prêmio da Paz a três mulheres, destacando seu
papel na conquista da "democracia" e da "paz duradoura". "A
decisão de conceder o Prêmio Nobel da Paz 2011 a três mulheres, Ellen Johnson
Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakkul Karman, reconhece que a democracia e a paz
duradouras não podem ser alcançadas sem que seja dada à mulher uma plena
oportunidade de participar", afirmou a Human Rights Watch em um
comunicado. "Esta é uma homenagem a todas as mulheres cujo incansável
trabalho e valentes protestos ajudaram a trazer paz e democracia, e a aquelas
mulheres que ainda estão lutando por isso", indicou o diretor da organização,
Kenneth Roth, citado no texto.
ONU
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon,
felicitou nesta sexta-feira as três vencedoras do Prêmio Nobel da Paz, as
liberianas Ellen Johnson e Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkol Karman,
afirmando que a escolha não podia ser melhor. "É um símbolo do poder das
mulheres. Antes de tudo, mostra o papel vital que têm as mulheres no avanço da
paz, da segurança e dos direitos humanos", acrescentou o chefe da ONU. O
Prêmio Nobel da Paz foi concedido nesta sexta-feira a três mulheres: a
presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf, sua compatriota e militante pela
paz Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkul Karman, ativista da chamada Primavera
Árabe. As três foram "recompensadas por sua luta pacífica pela segurança
das mulheres e de seus direitos de participar nos processos de paz",
declarou, em Oslo, o presidente do comitê Nobel norueguês, Thorbjoern Jagland.
Figura emblemática
Tawakkul Karman |
A iemenita Tawakkul Karman, primeira
mulher árabe a ganhar o prêmio Nobel da Paz, é uma figura emblemática da
mobilização opositora de seu país, uma das "revoluções" da "primavera
árabe". Esta jornalista de 32 anos armou uma tenda de campanha na Praça da
Mudança em Sanaa em março e vive ali desde então com seu marido, tentando assim
sofrer menos pressões do regime do presidente Ali Abdullah Saleh, que havia
enviado funcionários a sua casa para intimidá-la. A Praça da Mudança, na qual
milhares de jovens acampam, está protegida desde o mês de março por militares
dissidentes. Karman, que milita há anos pela liberdade de expressão e pelos
direitos das mulheres, foi uma das principais líderes das manifestações
estudantis que em janeiro iniciaram a revolta popular contra o regime. Em um
país no qual poucas mulheres ocupam lugares de protagonismo político, Karman
convocou manifestações para expressar a solidariedade com a mobilização na
Tunísia e no Egito e liderou protestos violentamente reprimidos pelo governo.
As manifestações se estenderam a outras
cidades do país e partidos políticos, tribos e parte das forças armadas se
somaram à mobilização. Em janeiro, Karman havia sido detida por seu papel nas
manifestações. Mãe de três filhos, forma parte do Conselho da Shura (algo como
o comitê central) do partido islamita de oposição Al Islah. Karman se opõe à
corrente salafista dentro de seu partido. Iniciou sua carreira jornalística
usando um véu integral, como muitas outras mulheres iemenitas, mas
posteriormente começou a cobrir apenas a cabeça com lenços coloridos. Karman
fundou em 2005 o movimento "Mulheres Jornalistas Sem Correntes".
Nasceu na localidade de Mejlaf, na província de Taez (sudeste de Sanaa).
Graduada em Ciências Políticas na Universidade de Sanaa, Karman está se preparando
para um mestrado. Segundo pessoas próximas, seu pai sempre a considerou a única
"rebelde" de seus muitos filhos. Após se opor à ação de sua filha no
início da mobilização popular, o próprio pai acabou por unir-se a ela. Tawakkul
Karman declarou nesta sexta-feira à AFP que seu prêmio Nobel da Paz era
"uma vitória para a revolução" iemenita. "A atribuição deste
prêmio é também um reconhecimento pela comunidade internacional de nossa
revolução e de sua vitória inevitável", acrescentou. Em declarações aos
canais de televisão árabes Al Jazeera e Al Arabiya, Karman dedicou o prêmio aos
militantes da "Primavera Árabe". "Trata-se de uma honra para
todos os árabes, muçulmanos e mulheres. Dedico este prêmio a todos os militantes
da Primavera Árabe", disse. "Estou muito feliz (...) não esperava
receber este prêmio e nem sabia que minha candidatura havia sido
apresentada", acrescentou.
Prêmio para o povo
Ellen Johnson Sirleaf |
A presidente liberiana Ellen Johnson
Sirleaf, uma das três vencedoras do Nobel da Paz 2011, disse que a distinção é
um prêmio para todo o povo liberiano. "Estou muito feliz com este prêmio,
que é o resultado de meus anos de combate pela paz na Libéria", afirmou a
presidente, cujo país, em 2003, pôs fim a 14 anos de guerras civis. "Este
prêmio é compartilhado com Leymah (Gbowee), outra liberiana, e é também um
prêmio para todas as mulheres liberianas", acrescentou. O Prêmio Nobel da
Paz foi concedido nesta sexta-feira a três mulheres: além de Sirleaf, sua
compatriota e militante pela paz, Leymah Gbowee, e a iemenita Tawakkul Karman,
ativista da chamada Primavera Árabe. As três foram "recompensadas por sua
luta pacífica pela segurança das mulheres e de seus direitos de participar nos
processos de paz", declarou, em Oslo, o presidente do comitê Nobel
norueguês, Thorbjoern Jagland. Sirleaf, de 72 anos, passou para a história ao
converter-se, em 2005, na primeira mulher eleita como chefe de Estado no
continente africano, em um país de quatro milhões de habitantes traumatizados
por guerras civis que, de 1989 a 2003, deixaram 250.000 mortos, destruindo suas
infraestruuras e sua economia. "Desde sua posse em 2006, contribuiu para
garantir a paz na Libéria, para promover o desenvolvimento econômico e social e
reforçar o lugar das mulheres", acrescentou Jagland.
Pacifista
A liberiana Leymah Gbowee, premiada
nesta sexta-feira com o Nobel da Paz de 2011 ao lado de sua compatriota e
presidente Ellen Johnson Sirlead e da iemenita Tawakkul Karman, é uma militante
pacifista que contribuiu para acabar com as guerras civis que devastaram seu
país até 2003. Quando era pequena, era chamada de "red" (vermelha)
por sua pele clara, relatou a liberiana no livro autobiográfico "Mighty Be
Our Powers: How Sisterhood, Prayer, and Sex Changed a Nation at War"
("Poderosos sejam nossos poderes: como a comunidade de mulheres, a oração
e o sexo mudaram uma nação em guerra"). Desde que de tornou conhecida no
movimento pacifista, esta quarentona corpulenta, originária da etnia Kpellé,
ganhou outro apelido no cenário internacional: "a guerreira da paz". Contra
os demônios da guerra, Leymah Roberta Gbowee chamou as mulheres a orar pela
paz, sem distinção de religião e frequentemente vestidas de branco. O movimento
foi crescendo durante o conflito, até culminar em uma greve de sexo, obrigando
o regime de Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz. Leymah Gbowee
"é mais que valente. Desafiou a 'tempestade' Charles Taylor e o obrigou a
se voltar à paz quando a maioria de nós, os homens, fugimos para salvar nossas
vidas", disse Nathan Jacobs, funcionário de 45 anos. Em dezembro de 1989,
depois de iniciar uma rebelião contra o presidente liberiano Samuel Doe,
Charles Taylor se apoderou em poucos meses da quase totalidade do país e
tornou-se presidente em 1997. Enfrentando uma revolta armada, viu-se obrigado a
deixar o poder em 2003, sob a pressão da rebelião e da comunidade
internacional. Durante a guerra e como assistente social, Leymah Gbowee
conviveu diariamente com as crianças soldados e percebeu que "a única
maneira de mudar as coisas, do mal para o bem, era que nós, mulheres e mães
dessas crianças, nos levantássemos e avançássemos pelo bom caminho",
declarou esta mulher, hoje mãe de seis filhos, instalada desde 2005 em Gana.
"Nada deveria levar as pessoas a
fazer o que fizeram com as crianças da Libéria", drogadas, armadas,
convertidas em máquinas de morte, explicou em um documentário - "Pray the
Devil back to Hell" (Reze para o Diabo voltar ao inferno) - sobre a luta
das liberianas pela paz. Esta luta "não é uma história de guerra
tradicional. Trata-se de um exército de mulheres vestidas de branco, que se
ergueram quando ninguém queria fazê-lo, sem medo, porque as piores coisas
imagináveis já haviam ocorrido conosco", escreveu em sua autobiografia. "Trata-se
da maneira como encontramos a força moral, a perseverança e a valentia para
levantar nossa voz contra a guerra, e reestabelecer o sentido comum em nosso
país", acrescentou. Leymah Gbowee, que fundou e dirige várias organizações
de mulheres, participou da Comissão Verdade e Reconciliação. Um percurso
inesperado para quem reconhece ter sido uma criança doente - rubéola, malária,
cólera - que "frequentemente desejou estar saudável".
Com informações do portal da revista
ISTOÉ.