Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania. |
Senti um misto de
vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha
coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o
trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos,
desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode
sinalizar algo mais profundo.
Centenas de e-mails
pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para
supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem
tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?
Lula teve muitos
problemas - e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma
conivência com a corrupção. Mas não foi um ditador, manteve as regras
democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social.
No caso de seu
câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso,
portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia.
Minha suspeita é que
a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo
e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.
Isso significa que um
dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um
mínimo de decência.
Transcrito de A FOLHA DE SÃO PAULO.