São Pedro de Heliópolis 2011: 1º dia

Vários internautas e seguidores deste blog vivem a pedir uma análise sobre a mais tradicional festa da nossa cidade. Estou apto a falar porque a ideia de criá-la foi minha. O então prefeito Zé do Sertão estava disposto a fazer algo que chamasse a atenção do povo da região para Heliópolis. Chegou a pensar numa micareta. Convenci o alcaide – na época ele ainda me ouvia – da distância cultural que tínhamos com o trio elétrico. Nós somos o que somos. Estamos mais para a macaxeira que para o caviar. A festa foi feita e já com grande sucesso.
Hoje tudo está diferente. Não sou saudosista. Olho para o futuro. Só que não vejo como esta festa sobreviverá. Ela está dançando conforme os modismos e não vai muito longe. Não quero dizer também que está um horror. Não é isso. Fato é que virou uma festa comum. Quase nada tem mais a ver com São Pedro. É uma repetição de tantas outras festas repletas de modismos apelativos. E tem muita gente exatamente porque é modismo. Acho que os organizadores não estão preocupados com inovações, mas com publicidade.
Trânsito caótico
Acreditem, trafegar em Heliópolis no período de festas está virando um inferno. É típico da ausência de um administrador municipal. Deveria ser proibido estacionamento desde a Heliópolis FM até o abrigo. Vale lembrar aos organizadores que a Avenida Dois de Julho é a passagem urbana da BA 393. Sexta-feira, primeiro dia de festa, os ônibus das bandas sofreram para chegar até o palco. Outra questão é estacionamento. Há pessoas fechando ruas para cobrar taxa de estacionamento. Tudo bem que a rapaziada queira ganhar uns trocados, mas a rua é pública!
Ornamentação
A única coisa que se pode elogiar do São Pedro 2011 é a ornamentação. É verdade que os enfeites dos postes foram de mau gosto, mas as entradas da cidade e a chegada ao arraiá estão bem, apesar de uma ponte construída. Claro que está bonita, mas e a utilidade? Será que não atrapalha a mobilidade dos foliões? Dizem que o objetivo da estética é esconder os defeitos gritantes. A vereadora Ana Dalva até que gostou, mas está preocupada com a conta que vem por aí. Se for como os outros anos, o povo vai cair da ponte! Ela está recolhendo valores de várias outras festas. A de Banzaê, por exemplo, foi 137 mil – e no período junino tradicional, com Adelmário Coelho e tudo o mais.
Bandas
Sei que o leitor pode até discordar, mas as atrações este ano estão aquém do investimento da festa. Na sexta-feira, as bandas tinham nomes diferentes e repertório igual. Só no arrastão, pela manhã, Zezinho da Ema nos fez imaginar que o período é de festa junina, mas logo depois caiu no axé e no pagode. As bandas estão abandonando definitivamente o forró para cair nas graças do sertanejo e das baladas supostamente românticas. O bom é que há uísque. Depois do segundo, tudo se ouve.
Apagão
A desorganização também foi confirmada com o apagão. Heliópolis ficou cerca de 5 horas sem energia elétrica na noite de sexta-feira para sábado. Com os geradores, os problemas foram resolvidos no local do palco, mas o povão ficou no escuro desde a apresentação da Banda Menina Faceira. Faltam investimentos neste setor. Cuidar de iluminação não é só trocar lâmpada de poste. Este artigo, por exemplo, foi concluído só após o segundo apagão, ocorrido já no fim da tarde deste Sábado. A luz retornou às 19:20.
Propaganda e SETUR
Parece que o prefeito não quer divulgar que o Governo do Estado da Bahia está também patrocinando o São Pedro 2011 de Heliópolis. A vereadora Ana Dalva está querendo saber quanto veio de patrocínio. O prefeito nunca divulga. Nem mesmo no palanque o anúncio é feito. O que se divulga é o nome do alcaide, da sua esposa e do seu filho. De vez em quando anunciam os nomes dos vereadores da bancada governista. Propaganda pessoal, enganosa e inconstitucional. É verdade que isto não ocorre pela primeira vez, mas eles disseram que vieram para mudar. Hoje a gente sabe que nunca antes na história do município se fez tanto rasgamento de seda para um nepotismo explícito e enjoativo.
Guerra de som
Sei que tem gente que adora isso, mas as pessoas idosas estão sofrendo com os sons de carros. Parece que estão disputando para ver qual o mais potente. Tudo bem quando só passam pela rua, mas há alguns que ficam em esquinas de bar e aumentam o volume. Pior, logo cedo já estão de plantão. Seria divertido se o volume fosse adequado e se a trilha sonora respeitasse a pluralidade. Acredito que o sujeito que ouve pagode o dia inteiro, com aquelas letras machistas, repletas de apelo à sacanagem e sem nenhuma criatividade (veja, não é o pagode tradicional), deve estar com sérios problemas de esquizofrenia ou não gosta das pessoas ao seu redor. A coisa é tão insuportável que, quando o som é desligado, a gente tem a exata noção do valor inquestionável do silêncio.