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Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

Poucas & Boas 2019.3

Ainda não será o fim
As vítimas do massacre de Suzano não serão as últimas. O Brasil está doente! (foto-montagem: G1)
Quem leu alguma coisa nos jornais ou sites, redes sociais, ou parou diante de uma TV ou rádio, teve a sensação de que a raça humana está chegando ao seu fim. Ouso discordar desta sensação tão comum em tempos sombrios. É que ainda não chegamos ao fundo do poço. Também estamos muito longe de uma terceira guerra mundial, embora saiba que os conflitos que pipocam no mundo inteiro, juntos, geram vítimas em maior quantidade que conflitos mundiais. Calma, gente. Ainda não será o fim. Teremos que piorar muito para que o ser humano perceba o coletivo como algo bem mais importante que o individual.
Exemplos não faltam I
Para apimentar o ambiente de ódio e ajudar a aumentar a sensação de descrédito no país, dois grupos poderosos se revezam num festival de provocações que assola o país. Começo pelo consagrado ator de Tropa de Elite. Wagner Moura chamou membros da direita brasileira de agressivos e medíocres. Não contente, disse que quem ganhou as eleições no Brasil foi a “mamadeira de piroca”. Afirmações como estas, vindas de um artista de fama internacional, formador de opinião pública, acabam por contaminar ainda mais de ódio um ambiente em constante estado de guerra. Daí para um assassinato é um pulo.
Exemplos não faltam II
E para aqueles que estão acostumados ao embate dicotômico, que só enxergam dois lados, também o nosso governo bolsonariano vem pisando na bola. O presidente não consegue largar o palanque. Seus filhos e seguidores continuam espalhando falso moralismo nas redes sociais. Aquele vídeo do carnaval foi uma canelada, mas o que é mesmo lamentável é a discussão rasteira sobre a reforma da previdência. Um assunto de vital importância para o Brasil ganha nas redes sociais o tratamento equiparado a uma mera discussão de bonecos controlados por ventríloquos. E que me desculpem os bonecos pela vil comparação.
Tempos de cólera
Já disse que esta coisa de esquerda e direita no Brasil é uma dupla farsa. Seria melhor classificar estes grupos de aproveitadores travestidos de esquerda ou direita. Querem o poder para sugar o estado. E, para continuarem em evidência, semeiam o ódio. Apimentam o discurso com fundamentalismo do nós contra eles. Bolsonaristas e Petistas, alimentados por satélites, difundem o ódio 24 horas por dia. Qualquer fato, qualquer espirro, qualquer cena, tudo vira motivo para uma guerra verbal. E mentem! Meu Deus, como mentem em tempos de cólera!
Decadência suprema
O fundamentalismo divisionista também chegou ao poder judiciário. A Suprema Corte brasileira – o STF – virou uma queda de braço entre os que querem reformar o país e os que se acomodaram ao que sempre foi assim. Parece que, para alguns, nós não devemos nos adaptar às leis, mas elas é que existem para justificar os fatos, ao bel prazer de uns e de outros. Afinal, brechas são criadas para tal e novas leis são forjadas todos os dias para satisfazer uma poderosa elite, de supostos esquerdistas ou direitistas, que se alimentam do estado. O STF pode sim um dia ser orgulho deste país, como hoje é a Lava Jato, mas demorará muito. Velhas cabeças, comprometidas com velhos vícios, jamais perceberão que caminham ladeira à baixo. O ministro Barroso resumiu bem a situação: “Todo mundo sabe o que está acontecendo aqui.” E sabemos onde isso vai dar, Ministro.
O limite do absurdo!
A sociedade está tão doente que já não sabemos mais o limite das coisas mais absurdas. Confesso que tenho medo de achar que ainda não vi tudo. Além de juízes corruptos, professores contra a ética e a moralidade, religiosos pedófilos, famílias devastadas pela busca de prazeres, pais que não enxergam os erros dos filhos, crianças sendo usadas na prostituição... Todos os limites inimagináveis já foram ultrapassados. Nenhum deles, entretanto, supera o que li na internet, num destes portais que aplaudem o que os garotos de Suzano fizeram na escola Raul Brasil. O texto esculacha nosso país. Diz que é um país de merda porque nem matar direito consegue. Enquanto na Nova Zelândia aquele australiano fez 49 vítimas, a dupla brasileira fez só oito e ainda não teve coragem de enfrentar a sociedade.
Antagonismo oportunista
O antagonismo entre PT e PSDB ou entre Bolsonaristas e Petistas é puro oportunismo. Na hora da defesa dos seus interesses, os opostos se atraem. Sem nenhuma cerimônia, PT e PSDB se uniram para a eleição do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Aliaram-se para reeleger o tucano Cauê Macris, da ala do governador paulista. Petistas e Bolsonaristas se engalfinham nas redes sociais. Quando se ouve a pergunta “quem mandou matar Marielle?”, o dedo aponta para uma suposta direita; já quando se escuta “quem mandou matar Bolsonaro?”, o dedo segue na direção da suposta esquerda. Entretanto, ambos se unem quando o assunto é Rede Globo ou imprensa nacional. São contra porque dizem agredir a democracia brasileira.
É devagar, devagarinho...
Que me perdoe o governador Rui Costa com o seu “Papo correria”, mas o estado da Bahia anda devagar, devagarinho, quase parando. Até o fechamento desta edição, lá se vão 40 dias para se fazer um reparo no telhado do Colégio Estadual José Dantas de Souza – CEJDS, em Heliópolis. Toda parte documental foi feita no tempo adequado. Os funcionários da escola, os representantes do NTE 17 e o setor de engenharia da SEC foram hábeis e corretíssimos, mas... O estado se arrasta. Não há mais a quem apelar. Resta esperar. Ainda bem que também contamos com a presteza da Prefeitura Municipal de Heliópolis. Não fosse isso, estaríamos com 630 alunos sem aulas. O governador é correria, mas o estado é uma gorda e lenta tartaruga.