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Lena morreu!

Poço Verde nega título a Lula. E daí?

A cegueira ideológica impede a transformação real da sociedade (foto: porvir.org.)
Dizem que o Brasil está tão dividido que é preciso tomar cuidado para não desagradar a um lado ou outro. Escrever hoje é algo controvertido, é viver a missão dos subversivos. Como não tenho medo de desaforos, vou logo dizendo que estão perdendo um tempo enorme com essa questão de não ter a Câmara Municipal de Poço Verde dado o título de Cidadão poçoverdense ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Primeiro, é preciso saber que a Câmara Municipal teve um vereador afastado por estar envolvido na questão dos explosivos de roubo a banco. Agora, Lula, por causa de um mísero voto, ficou sem o título. Acho que ele não dormiu ao saber. Ironias à parte, nos dois casos, a Câmara Municipal de Poço Verde cumpriu o que determina o seu Regimento Interno. Não houve ilegalidades. E por isso a câmara merece aplausos? Então eu mereço ser ovacionado porque pago em dias os meus impostos, porque trabalho e cumpro minhas obrigações.
Segundo, aqueles que acham que Lula merecia o título, louvam por ele ter distribuído renda e permitido uma vida melhor para os pobres. Se isto é verdade, estes não são mais pobres? Ou será que Lula fez um arremedo para criar um vínculo popular e se perpetrar no poder. Getúlio Vargas também foi “O pai dos pobres”. Em troca, passou quinze anos ininterruptos no poder. Nem Lula nem Getúlio acabaram com a miséria, a pobreza e a desigualdade no Brasil. Eles, na maioria das vezes, fizeram ações que tiveram efeitos práticos durante os seus governos. No caso de Getúlio, para ser justo, três coisas ainda estão vivas: a salário mínimo, a CLT e a Petrobrás. Esta última foi quase destruída por Lula e este ainda nos deixou de herança uma Dilma e um Michel Temer.
O que Lula fez de importante que transformou Poço Verde? Se foram praças, elas envelhecem e precisam sempre de reformas. As estradas? Ficam esburacadas e necessitam sempre de reparos. Programas sociais? São necessários e urgentes, mas podem virar cabos eleitorais de exploração de consciências ou causar dependências, caso não sejam acompanhados de um programa educacional eficiente. Se os indicadores sociais econômicos subiram, os indicadores sociais qualitativos despencaram. É só mirar nos números da educação e da saúde. E do ponto de vista político, ninguém sabe dizer se Lula se aproveitou das elites políticas locais ou o contrário. Quem conhece Poço Verde sabe que os nomes mudaram, os grupos são sempre os mesmos.
Portanto, antes de se preocuparem com os títulos dados ou negados a Lula, é preciso pensar onde estamos e onde deveríamos estar. Se houve evolução, e é possível que houve, não elegemos políticos para isso mesmo? Tenho a certeza de que não estamos no patamar que merecíamos. Isso graças a toda uma roubalheira presente nos três níveis de poder, nos três poderes, com raros e nobres casos à parte. Vi um internauta dizer que os que condenam Lula são os mesmos que recebem emendas dos defensores do governo Temer. E, digo, os que defendem Lula são os mesmo que, no governo do PT, recebiam emendas dos defensores e adeptos daquele governo. Nada mudou!
Esta política babaca de endeusamento é um problema que enraíza o populismo. Qualquer um que resolver bater em Lula, e pode ser até um Bolsonaro qualquer, terá a preferência dos opositores. Serão os “eles” de que tanto Lula fala. Enquanto isso, alguns deputados, alguns senadores, juristas, políticos sérios, empresários honestos e uns poucos sindicalistas, dentre outros, procuram uma saída para a crise em que estamos. Ocorre que não estão sendo ouvidos. O que se ouve e vê são os condenados indo em busca de popularidade para se livrar da cadeia ou populistas difundindo na internet o ódio e o preconceito para angariar votos dos desesperançados e anarquistas.  
Dar ou negar título a Lula não é o maior ou menor problema de Poço Verde. O problema daqui é a cegueira. Há pessoas que todos os dias salvam vidas, tiram crianças do mundo da ignorância, indicam caminhos a serem seguidos, acalmam almas agitadas, desviam males dos caminhos de tantos. Muitos são pagos para isso, mas fazem com tanta devoção, com tanto esmero. Outros nem mesmo são pagos. Fazem por amor ao próximo. Alguém se lembrou de dar um título a algum deles? É preciso ver o político como um ser que deve ser analisado pelo que pretende fazer. Se fez mal, é descartado. Se fez bem, foi obrigação. Para o porvir, tudo deverá ser sempre maior e melhor.