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Bom Jesus da Lapa - Cidades do Velho Chico 17

"o sistema tradicional de controle de poder político por meio do abuso de autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública para favorecimento pessoal ou de simpatizantes políticos"

                                                       Rodrigo Rara*
Estudante afirma que sigilo do voto foi quebrado na AL-Ba
A sociedade baiana assistiu alarmada a elaboração de um triste capítulo na história da resistente e heroica Assembleia Legislativa da Bahia.
Nas eleições para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, na iminência de ver seu indicado sendo derrotado novamente na segunda rodada de votação, o líder da maioria Zé Neto, do PT, convoca seus liderados para o Sala da Presidência.
A reunião acaba, o segundo turno começa. Os deputados da oposição, vitoriosos na primeira votação com Carlos Gaban (DEM) vencendo apertado o deputado federal Zezéu Ribeiro (PT), assistem atônitos a mais nova e indecorosa estratégia do Governo Wagner na Assembleia Estadual: coagir seus parlamentares a tirarem foto de seus votos, em urna, para confirmarem suas posições pretensamente favoráveis ao Governo.
Na Casa das Leis, o sigilo de votação estava ali, sendo violado a cada flash.
Voltemos a definição da epígrafe, que como o título sugere, é a do voto de cabresto, expediente largamente utilizado na República Velha que encontrou seu declínio - nunca extinção - na instituição do voto secreto em 1932, chamado assim devido sua raiz sócio-histórica na zona rural brasileira, onde o arreio de corda ou couro servia para prender o equino à estrebaria ou para conduzir sua marcha. Desta forma, caberia ao coronel conduzir "seus eleitores" à votação (aberta) para ratificarem o seu desejo pessoal.
No caso citado, legítimo exemplo de voto de cabresto, há um agravante: estamos tratando de representantes escolhidos pelo povo, eleitos para, em seu nome, criar leis, fiscalizar o Executivo e, por óbvio, indicar soberanamente nomes ilibados e competentes para os Tribunais de Contas. Tudo isto, no terreno do legal e do ideal, claro. Lamentavelmente, em todas as estruturas legislativas do país encontramos pressão política aos parlamentares e rateamento de cargos no Executivo em troca de seus apoios, mas reitero: jamais foi dado notícia do tipo que ocorreu no fim da noite desta quarta-feira.
Será que os parlamentares foram obrigados a enviar as fotos de seus votos, via WhatsApp, ao Governador? O que acontecerá com aqueles que não possuem internet móvel, deverão pessoalmente levar suas fotografias ao césar ou ao líder da maioria? Entristeço-me na visão daquele parlamentar menos "muderno", ao receber a infame ordem, se desesperar à procura de um "celular com câmera" de um assessor mais próximo. Brincadeiras cômicas em um jogo trágico.
A mácula foi feita, o mal exemplo também. Na universalização dos smartphones e da internet móvel, inclusive nos rincões do país, deve ser alvo de preocupação, a lição dada aos líderes políticos locais de que o voto não precisa ser seguro e sigiloso, podendo agora ser até fotografado e compartilhado - portanto, melhor monitorado.
Que a nossa democracia compreenda a importância e os objetivos da velha instituição do voto secreto na mesma proporção que reconheça os avanços tecnológicos da atualidade.
Que os cidadãos baianos e brasileiros reajam a este precedente perigoso e emblemático que une-se a tantos outros nessa tentativa mal disfarçada de venezuelização do Brasil.
                          *Rodrigo Rara é um dos líderes
               da Juventude do Democratas na Bahia 
                      e estudante de Direito pela UFBA.