>>>Cheio de Arte: O meio do mundo de Antônio Carlos Viana
>>>Cheio de Arte: O meio do mundo de Antônio Carlos Viana: Antônio Carlos Viana O escritor sergipano Antônio Carlos Viana, autor de livros, entre os quais se destaca O meio do mundo e outros co...
Aberta a temporada de negociatas
Landisvalth Lima
Rui Costa |
Li na Tribuna da Bahia, neste 25
de janeiro, a reportagem de Fernanda Chagas onde se vê a mobilização de Rui
Costa para ser o escolhido de Wagner como sucessor no governo baiano. Lá diz
que o deputado do PT sai na frente e visitará mais de setenta municípios com o
fim de ganhar musculatura na luta pela indicação do PT e que a disputa para
suceder o governador Jaques Wagner em 2014 ganha cada vez mais força na base
aliada, e em especial no PT, cujo próprio líder petista afirmou que a sigla
possui legitimidade e precisa acelerar o processo rumo à vitória. E, sem
dúvida, articulações não têm faltado neste sentido, assim como nomes.
A reportagem afirma que estão no
páreo o secretário da Casa Civil, Rui Costa, tido como o preferido do
governador, o senador Walter Pinheiro, cuja experiência política é bastante
lembrada, e ainda outros avaliados como de menos peso, como o secretário de
Planejamento Sérgio Gabrielli, o ex-prefeito de Camaçari Luiz Caetano, assim
como a ex-prefeita de Lauro de Freitas Moema Gramacho. Ainda o texto afirma que
em meio à busca por espaços e, consequentemente, futura densidade eleitoral,
por exemplo, não passou despercebido o anúncio por parte de Rui Costa de que a
partir desta sexta-feira (25/1) os membros do Comitê Estadual para Ações de
Convivência com a Seca, coordenados por ele, farão reuniões técnicas nos
territórios de identidade atingidos pela seca. Em dois dias visitarão, pelo
menos, 74 cidades. A largada será dada pelos 36 municípios dos territórios
Médio Rio de Contas e Vale do Jiquiriçá. O debate está marcado para acontecer
em Jequié, no receptivo de eventos Buffet Marlene Marinho, das 8h às 17h.
A meta, conforme Rui Costa,
segundo a reportagem, é apresentar as medidas de convivência com a seca e
receber as demandas de cada prefeito. “Faremos um atendimento direto aos
prefeitos. O objetivo é acompanhar a situação dos municípios e otimizar as
ações. Será um momento para sanar dúvidas, diagnosticar demandas e dar orientações”,
disse o secretário. O encontro itinerante terá uma segunda reunião, quando
secretários municipais de Agricultura, Assistência Social e Infraestrutura
terão orientações técnicas das empresas e secretarias estaduais. Eles vão se
reunir no auditório Waly Salomão, da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia. A segunda reunião itinerante do comitê reunirá os prefeitos dos 38
municípios distribuídos nos territórios Semi-árido Nordeste II e Sisal, no dia
5 de fevereiro, em Tucano. O terceiro encontro será em Jacobina, no dia 19 de
fevereiro, e reunirá prefeitos dos territórios Piemonte da Diamantina e
Piemonte Norte do Itapicuru.
O texto completa dizendo que as
movimentações não se restringem apenas ao titular da Casa Civil. A ida de José
Sérgio Gabrielli à China como um dos principais integrantes da comitiva oficial
do governador também rendeu muitos comentários. Aliados de primeira hora não
deixaram de pontuar que os investimentos assegurados na viagem podem ser
revertidos em bons frutos na sucessão estadual. Nenhum, deles, entretanto, se
intitulam como candidatos. Rui Costa, em entrevista exclusiva à Tribuna, ao ser
questionado sobre o fato de ser o predileto, mais uma vez se esquivou e pontuou
que nunca ouviu Wagner falar isso. “Tem outros nomes, evidente. O governador eu
nunca ouvi falando que tem preferência. Tem vários nomes colocados, então eu
acho que é o momento de todos os nomes que estão colocados nos dedicarmos a
ajudar o governador a materializar todos os planos e ações de governo. Todos os
nomes que têm surgido até agora têm ajudado o governador. Acho que nós teremos,
com certeza, uma chance enorme de fazer sucessão, porque chegaremos lá unidos e
entregando projetos e ações de governo”.
Fato é que o PT perdeu o rumo. Seus candidatos estão escolhendo o caminho do uso da máquina pública para formatar nomes. E só assim o Rui Costa poderá ter seu nome ventilado. O secretário, além de ser um péssimo deputado, é famoso por cortar cabeças de companheiros nesta Bahia de meu Deus, só para satisfazer os seus desejos políticos. Foi o responsável pela eliminação de companheiros históricos com o fim de abrigar ex-governistas ou políticos que outrora eram perseguidores implacáveis de petistas. Com ele, os fins justificam os meios. Está aberta a temporada de negociatas no terreno do vale-tudo!
Ana Dalva News: Exemplo: Justiça extingue 12.434 cargos políticos
Ana Dalva News: Exemplo: Justiça extingue 12.434 cargos políticos: MPE de São Paulo apontou ilegalidades na edição de leis municipais que abriram caminho para contratação de servidores sem realização de co...
Procurador do Ceará quer devolução de 650 mil de show de Ivete Sangalo
NELSON BARROS NETO – da Folha de
São Paulo
Procurador Gleydson Alexandre |
O Ministério Público de Contas do
Ceará informou que vai pedir o ressarcimento aos cofres públicos do cachê de R$
650 mil pago pelo governo do Estado à cantora Ivete Sangalo por um show na
inauguração de um hospital estadual em Sobral. O show foi realizado na
sexta-feira, na cidade que é berço político do governador Cid Gomes (PSB) e de
seu irmão Ciro. O pagamento do cachê foi registrado ontem na contabilidade do
Estado. Segundo a instituição, mesmo em casos de dispensa de licitação, o poder
público deve apresentar ao menos três orçamentos, mas o governo só anexou dois.
O procurador-geral do Ministério Público de Contas, Gleydson Alexandre, diz que
apresentará o pedido no dia 5, na volta do recesso do Tribunal de Contas do
Estado. Em análise inicial, o TCE não apontou irregularidade no caso. Se essa
avaliação for mantida, Alexandre disse que cobrará a devolução dos R$ 650 mil
na Justiça. O Ministério Público listou seis shows de Ivete Sangalo contratados
por prefeituras em 2012, entre elas a do Rio de Janeiro, por valores entre R$
400 mil e R$ 500 mil.
Outro lado
O governador Cid Gomes informou
ontem, por meio da assessoria de comunicação, que não poderia se pronunciar
porque não foi notificado sobre o tema. Na semana passada, Cid afirmara que
continuaria a promover esses eventos "doa a quem doer" e que o
"povo precisa de diversão". Ivete Sangalo não se pronunciou.
Prefeitos dizem enfrentar dificuldades para contratar médicos
Aline Leal – da Agência Brasil –
com edição de Carolina Pimentel
Brasília - O presidente da
Associação Brasileira de Municípios (ABM), Eduardo Tadeu, disse hoje (22) que
os prefeitos têm enfrentado dificuldades para contratar médicos. O relato foi
feito ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Durante a reunião, a associação
e outras entidades representativas entregaram carta endereçada a presidenta
Dilma Rousseff em que pedem a adoção de medidas por parte do governo federal
para resolver o problema. Segundo Tadeu, as prefeituras tentam de várias formas
contratar médicos, mas não conseguem preencher as vagas. “Eu fui prefeito por
oito anos e nunca consegui completar o número de médicos necessário nas unidades
básicas de saúde. Tem um número pequeno de profissionais e os municípios ficam
quase fazendo um leilão por esses profissionais”, contou. Para resolver o
problema, o presidente defende ampliação das vagas nas faculdades de medicina e
mais facilidades para a contratação dos profissionais formados no exterior.
“Esses médicos [graduados fora do país] poderiam prestar serviços nos
municípios mais necessitados, principalmente na atenção básica. O governo
poderia flexibilizar o exame exigido para esses profissionais, até mesmo
reconhecendo algumas faculdades estrangeiras”, sugere. Atualmente, a taxa é 1,9
médico por mil habitantes no Brasil. Para o Ministério da Saúde, o ideal seria
elevar para 2,7 médicos por mil habitantes, o mesmo índice do Reino Unido. No
ano passado, o ministério anunciou a criação de cursos de medicina e expandir
as vagas nas faculdades já existentes, com o objetivo de ampliar o número de
profissionais no país. A ABM e as outras entidades agendaram uma nova reunião
sobre o tema para segunda-feira (28) com o ministro da Saúde.
Em seu primeiro ano, programa de
seleção de médicos ocupou menos de 20% das vagas
Menos de 20% das vagas para médicos
oferecidas pelo Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica
(Provab) foram preenchidas no primeiro ano de vigência do programa. Das 2 mil
vagas abertas para atuação na saúde básica, apenas 366 profissionais foram
contratados, segundo o Ministério da Saúde. Criado em dezembro de 2011, o
Provab é uma das estratégias do governo para tentar fixar médicos em regiões
com carência desses profissionais, como a Amazônia, o Nordeste e as periferias
das grandes cidades. Para estimular a ida para essas áreas, é oferecida
pontuação adicional de 10% na nota dos exames de residência para os médicos que
tiverem bom desempenho no primeiro ano de atuação no programa. O governo
financia ainda especialização em Saúde da Família e cursos a distância. De
acordo com balanço do ministério, 950 municípios se inscreveram no programa
para seleção dos profissionais. Para Felipe Proenço, diretor de Programas da
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério, a baixa
adesão está relacionada ao número insuficiente de profissionais no mercado.
Segundo o diretor, uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
mostrou que existiam 13 mil médicos graduados em 2010 no país para 19 mil vagas
formais de trabalho. No entanto, ele considera que o programa teve sucesso
neste primeiro ano, mas que será revisado para ser aprimorado. “Olhando para
várias dificuldades dos estados, ouvindo pesquisas com gestores, a gente
entende que, além de um problema de má distribuição, existe um quantitativo
menor de médicos do que é necessário para o sistema de saúde,” diz Proenço,
destacando que diversas equipes do Saúde da Família estão desfalcadas, sem
médicos. O diretor disse ainda que o ministério quer chegar à relação de 2,7
médicos para mil habitantes, a mesma do Reino Unido. Atualmente, no Brasil,
essa relação é 1,9 médico para cada grupo de mil pessoas. Este ano, o governo
anunciou que pretende criar novos cursos de medicina e expandir as vagas nas
faculdades já existentes, com o objetivo de ampliar a quantidade de profissionais.
Em junho, o Ministério da Educação anunciou o Plano de Expansão da Educação em
Saúde, voltado para regiões consideradas prioritárias, que prevê em 10% o
aumento do número de vagas de medicina. A proposta não tem o apoio do Conselho
Federal de Medicina (CFM). O CFM tem argumentado que não faltam médicos no país
e que a proporção atual (1,95 médico por mil habitantes) é suficiente. Segundo
a entidade, existe uma má distribuição dos profissionais. O CFM defende a
implantação de políticas públicas para reduzir essa desigualdade, como a
criação de uma carreira de Estado exclusiva para médicos, semelhante à dos
magistrados e procuradores do Ministério Público. Uma pesquisa do CFM, de 2011,
mostra que enquanto em São Paulo são 4,02 médicos por mil habitantes, o maior
número do país, no Maranhão a taxa é 0,68 médico por mil habitantes, o menor. Na
Bahia, 69 municípios implantaram uma carreira médica por meio da Fundação
Estatal de Saúde na Família. As progressões ocorrem com base no cumprimento de
metas e resultados. O médico começa trabalhando em cidades com dificuldade de
provimento e pouca infraestrutura. Conforme vai progredindo na carreira, passa
a atuar em cidades com melhor estrutura. Porém, de acordo com o presidente da
fundação, Carlos Aberto Trindade, a iniciativa não conseguiu reduzir o problema
da fixação de médicos em locais que historicamente enfrentam dificuldade de
contratação. Os salários, continuou o presidente, variam entre R$ 8 mil e R$ 11
mil para 40 horas de trabalho. Além da remuneração, os profissionais têm
direito a cursos a distância de educação permanente e a possibilidade de
cursarem mestrado e doutorado. “Há quase um leilão por médicos entre os
municípios [da Bahia]”, disse Trindade, acrescentando que o número de
profissionais é insuficiente. Além do Provab, o Ministério da Saúde desenvolve
outros programas para incentivar a atuação dos médicos fora dos grandes centros
urbanos. Um deles é o abatimento das dívidas com o Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies) para quem trabalhar em uma das 2.282 cidades com carência na
atenção básica à saúde.
IBGE atualiza área oficial de municípios, estados e regiões do Brasil
O arquipélago de Abrolhos pertence
oficialmente à Bahia.
Vinícius Soares – da Agência
Brasil – Edição de Davi Oliveira
Abrolhos pertence à Bahia |
Brasília - O Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) publicou hoje (23) no Diário Oficial da União
uma série de tabelas com a área atualizada de todos os municípios, estados e
regiões brasileiras, valores que, em alguns casos foram ajustados nos últimos
anos. De acordo com a portaria, o Brasil tem 8.515.767,049 quilômetros
quadrados (km²). Com sua extensão, é o quinto maior país do mundo em área
territorial. O tamanho é cerca de metade dos 17 milhões de quilômetros
quadrados da Rússia, o maior, e mais de 19 milhões de vezes superior à área do
Vaticano, o menor. Algumas das alterações trazidas pela portaria do IBGE são a
nova área da Bahia, que aumentou para 564.733,177 km², por ter incorporado a
área insular do Arquipélago de Abrolhos, que faz parte do município de
Caravelas. Santa Catarina conta agora com as águas internas da Baía Sul e da
Baía Norte, entre o continente e a Ilha de Santa Catarina. O maior estado
brasileiro continua sendo o Amazonas, com 1.559.159,148 km², que supera em território
as regiões Sul e Sudeste somadas. Com sua área, o Amazonas seria maior que os
países da América do Sul e da Europa, com exceção da Argentina e da Rússia,
além do Brasil. Se fosse um país, o estado seria um dos 20 maiores do mundo em
extensão territorial. O estado de menor extensão territorial, Sergipe, com
21.915,116 km², é cerca de 71 vezes menor. Se o Amazonas tivesse sido escolhido
para ceder espaço ao Distrito Federal, poderia comportar 269 vezes a capital,
que tem apenas 5.779,999 km². O maior município brasileiro, no entanto, fica no
Pará. Altamira tem 159.533,730 km², o que o faz maior do que dez estados
brasileiros e até do que alguns países, como Portugal, Coreia do Sul e Grécia.
Vêm em seguida Barcelos (122.476,123 km²) e São Gabriel da Cachoeira
(109.183,434 km²), ambos no Amazonas, e Oriximiná (107.603,292 km²), no Pará. O
município mineiro de Santa Cruz de Minas, com área de 3,565 km², é o menor do
país. Sua área é ainda menor que a da Ilha de Fernando de Noronha, distrito
estadual de Pernambuco, que tem 17,017 km². A lista dos menores municípios
inclui Águas de São Pedro (5,537 km²), São Caetano do Sul (15,331 km²) e Poá
(17,263 km²), todos em São Paulo. Entre as regiões, a Norte, com 3.853.676,948
de km², é a maior, e a Sul, com 576.774,310, é a menor. Enquanto a primeira é
maior que a Índia, o sétimo maior país do mundo, a Região Sul supera a extensão
da França, o 47º.
Pepe Mujica, presidente do Uruguai, sem privilégios
O legado controvertido do homem
que, entre um mate e outro, colocou o Uruguai entre os países mais liberais do
continente depois de ficar 14 anos na cadeia
SIMON ROMERO - THE NEW YORK TIMES
- O Estado de S.Paulo, com informações complementares de Janaina Figueiredo, de
O GLOBO.
Jose Mujica, o presidente que optou pela simplicidade |
Alguns líderes mundiais vivem em
palácios. Outros desfrutam de uma vida privilegiada, com um mordomo discreto,
uma frota de iates e uma adega de vinhos com Champagne de safras especiais. E
há também José Mujica, o ex-guerrilheiro que é o atual presidente do Uruguai.
Ele mora numa casa simples nos arredores de Montevidéu sem nenhum empregado.
Como seguranças, tem dois policiais à paisana estacionados numa rua de terra.
Numa declaração à nação, famosa
exportadora de carne de gado, com uma população de 3,3 milhões de habitantes,
Mujica, de 77 anos, recusou a opulenta mansão presidencial de Suárez y Reyes,
com nada menos que 42 funcionários, e preferiu permanecer na casa onde ele e a
esposa vivem há anos, numa pequena fazenda onde plantam crisântemos que vendem
nos mercados locais.
Chega-se à austera habitação de
Mujica depois de percorrer a rodovia O'Higgins, passando por bosques de
limoeiros. Ao assumir a presidência, em 2010, seu patrimônio era de
aproximadamente US$ 1.800 - o valor do fusca 1987 estacionado na garagem.
Jamais usa uma gravata e doa cerca de 90% do salário, em grande parte a um
programa de expansão de moradias para os pobres. Sua atual versão de
radicalismo discreto - uma mudança acentuada em relação aos dias nos quais ele
pegou em armas para tentar derrubar o governo - exemplifica a emergência do
Uruguai como talvez o país mais liberal do ponto de vista social da América
Latina.
Sob o governo de Mujica, que
tomou posse em 2010, o Uruguai chamou a atenção por tentar legalizar a maconha
e o casamento de gays, e ao mesmo tempo implementar uma legislação das mais
abrangentes de toda a região sobre o direito ao aborto, estimulando
consideravelmente a utilização de fontes de energia renovável, como os ventos e
a biomassa. Enquanto a doença afasta o presidente Hugo Chávez da Venezuela do
cenário político, deixando repentinamente o continente sem a figura exagerada
que tanto influenciou a esquerda, o ascetismo praticado por Mujica é um estudo
de contrastes. Segundo ele, para que a democracia funcione devidamente, os
líderes eleitos deveriam se adequar mais à realidade. "Fizemos todo o
possível para tornar a presidência um cargo menos venerado", disse Mujica
depois de preparar o mate para todos na cozinha de sua casa, numa recente
entrevista.
A vida simples do antigo guerrilheiro foi matéria-destaque nos jornais americanos |
Enquanto passava a cuia de mão em
mão, ele admitiu que seu tranquilo estilo presidencial pode parecer inusitado.
No entanto, afirmou que se trata de uma escolha consciente para evitar as
armadilhas do poder e da riqueza. Citando o filósofo romano Sêneca, Mujica
disse: "O pobre não é o homem que tem pouco demais, mas o homem que anseia
por mais". O líder diante frente das mudanças do Uruguai, conhecido por
seus inúmeros detratores e partidários como Pepe, é uma pessoa que poucos
achariam em condições de ascender a essa posição. Antes que Mujica se tornasse
produtor de crisântemos, era um dos líderes dos tupamaros, os guerrilheiros
urbanos que se inspiraram na revolução cubana, realizavam roubos à mão armada a
bancos e sequestros nas ruas de Montevidéu.
Em sua luta contra o Estado
uruguaio, os tupamaros ganharam notoriedade pela violência. O diretor
Constantin Costa-Gavras inspirou-se neles para o seu filme de 1972 Estado de
Sítio, sobre o sequestro e execução, em 1970, de Daniel Mitrione, assessor
americano da polícia uruguaia. Mujica disse que o grupo "tentava por todos
os meios evitar matanças", mas também admitiu eufemisticamente seus
"desvios militares". Uma operação brutal conseguiu por fim dominar os
tupamaros e a polícia capturou Mujica em 1972. Ele passou 14 anos na cadeia,
mais de 10 numa solitária, frequentemente num buraco no chão. Neste período, o
deixaram mais de um ano sem tomar banho, e seus únicos companheiros, contou,
eram uma perereca e os ratos com os quais compartilhava migalhas de pão. Alguns
dos outros tupamaros que ficaram durante anos confinados em solitárias não
tiveram o benefício da companhia de roedores amigos. Um deles, Henry Engler, um
estudante de medicina, sofreu um grave esgotamento mental antes de ser
libertado em 1985. Mujica raramente fala da época que passou na prisão. Sentado
diante de uma mesa no jardim, bebericando o seu mate, ele diz que teve tempo
para refletir. "Aprendi que sempre se pode começar de novo", afirmou.
Ele optou por recomeçar ingressando na política. Eleito deputado, chocou os
funcionários do estacionamento do Parlamento ao chegar a bordo de uma Vespa.
Depois da ascensão da Frente Ampla ao poder em 2004, uma coligação de partidos
de esquerda e de social democratas mais centristas, foi nomeado ministro da
Pecuária, Agricultura e Pesca.
Pepe Mujica em sua chácara |
Antes que Mujica vencesse as
eleições de 2009 por ampla margem, seu adversário, Luis Alberto Lacalle,
menosprezou sua casinha chamando-a de "caverna". Depois disso, Mujica
também provocou uma agitação nos meios políticos do Uruguai vendendo uma
residência presidencial numa estância balneária, por considerá-la "inútil".
As doações o deixam com US$ 800 por mês do seu salário. Como declarou, ele e
sua mulher, Lucia Topolanski, ex-guerrilheira que também foi presa e hoje é
senadora, não precisam de muita coisa para viver. Em uma nova declaração em
2012, Mujica disse que compartilha da propriedade dos bens que antes estavam no
nome da esposa, incluindo a casa e os implementos agrícolas, que contribuem
para aumentar sua renda.
Ele destacou que seu antecessor
da Frente Ampla na presidência, Tabaré Vázquez, também permaneceu na sua casa
(embora Vázquez, oncologista de profissão, more no bairro da classe alta de El
Prado), e José Batlle y Ordóñez, o presidente do início do século 20 que criou
o estado do bem-estar uruguaio, ajudou a forjar uma tradição na qual "não
existe distância entre o presidente e qualquer um dos seus vizinhos". Na
realidade, se há um país na América do Sul em que um presidente pode dirigir um
fusca e viver sem um exército de seguranças será o Uruguai, que figura entre as
nações da região com menos corrupção e menos desigualdade social. Embora a
criminalidade comece a se tornar preocupante, o Uruguai continua um dos países
mais seguros da região.
No entanto, o estilo de governo
do presidente não agrada a todos os cidadãos. A proposta de legalizar a maconha,
particularmente, provocou um violento debate e as pesquisas mostram que a
maioria da população é contrária à medida. Em dezembro, Mujica pediu aos
parlamentares que adiassem a votação sobre a regulação do mercado da maconha,
embora ele pressione para que o projeto de lei seja debatido mais uma vez em
breve. "É uma vergonha ter como presidente um homem como ele", disse
Luz Díaz, uma empregada doméstica aposentada de 78 anos que mora perto de
Mujica e votou nele em 2009. Ela afirmou que não votaria mais nele se tivesse a
chance. "Esse negócio da maconha é um absurdo", acrescentou.
"Pepe deveria voltar a vender suas flores."
As pesquisas mostram que seus
índices de aprovação estão caindo, mas Mujica diz não se importar. "Não
ligo a mínima", disse, enfatizando que considera "monarquista" a
possibilidade de se reeleger para mandatos consecutivos, proibidos pela
Constituição uruguaia. "Se me preocupasse com as pesquisas, não seria
presidente", afirmou. Faltando dois anos para o fim do mandato, Mujica
parece apreciar a liberdade de falar o que pensa. Quanto às suas crenças
religiosas, disse que ainda está em busca de Deus. Ele lamenta que tantas
sociedades tenham a expansão econômica como prioridade, definindo-a "um
problema para a nossa civilização" em razão das exigências feitas aos
recursos do planeta. (O interessante é que a economia do Uruguai anda crescendo
a uma taxa confortável anual estimada em 3,6%. Quando a cuia de mate ficou
vazia, Mujica desapareceu na cozinha e voltou com um sorriso malicioso e uma
garrafa de Espinillar, uma bebida alcoólica feita com a cana de açúcar. Ainda
não era meio-dia, mas enchemos os copos e brindamos.
Depois disso, o presidente falou
de vários assuntos: antropologia, ciclismo e a paixão dos uruguaios pela carne
bovina. Ele disse que nem sonha em se aposentar, mas espera poder dedicar-se
novamente à agricultura em tempo integral no final do mandato. Finalmente, os
olhos do presidente se iluminaram quando lembrou de um trecho do Dom Quixote,
no qual o cavaleiro andante bebe vinho de um chifre e janta carne de ovelha com
os pastores seus anfitriões, pronunciando um discurso sobre a "peste da
cavalaria". "Os pastores eram as pessoas mais pobres da
Espanha", disse Mujica. "Provavelmente, eram os mais ricos",
acrescentou. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Candidato divide propriedade com
família que ficou sem casa
Casa onde vive o presidente do Uruguai |
A rua é de terra e a casa, um
pouco precária. No portão de madeira da entrada, os cinco cachorros que moram
no lugar recebem os visitantes com alegria. A mais mimada é Manuela, que perdeu
uma das patas num acidente. Ela é a única que pode entrar na casa e até mesmo
dormir com seus donos, o então candidato à Presidência do Uruguai José
"Pepe" Mujica e a deputada e candidata a senadora na época Lucia
Topolansky. O casal vive numa chácara de 35 hectares, em Rincón del Cerro, a 15
quilômetros de Montevidéu. Às vésperas da eleição, a repórter Janaína
Figueiredo, de O GLOBO, visitou a casa de Mujica, com um pequeno grupo de
jornalistas estrangeiros. Por recomendação dos assessores, o candidato, de 74
anos na época, evitou dar entrevista, mas aceitou mostrar o lugar onde mora há
mais de 20 anos. A chácara é um retrato do ex-guerrilheiro e uma espécie de
refúgio. Mujica e Lucia (que também integrou o movimento tupamaro e esteve 14
anos presa) gostam de plantar flores e verduras. O casal compartilha sua casa
com uma família que há alguns anos enfrentou graves problemas econômicos e, sem
ter onde morar, foi socorrida por Mujica e sua mulher.
Assinar:
Postagens (Atom)