Exclusivo!

Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Uma conferência de cultura sem público

III Conferência Municipal de Cultura
Aconteceu no último sábado, na Câmara Municipal de Heliópolis, a III Conferência Municipal de Cultura, com o tema “Uma Política de Estado Para a Cultura: Desafios do Sistema Municipal de Cultura”. O evento foi divulgado no município e teria inicia às 9 horas da manhã. O início se deu efetivamente às 10:45 com o pronunciamento em vídeo do secretário de Cultura da Bahia, Antônio Albino Canelas Rubim, que falou da importância das conferências de cultura no processo democrático brasileiro, dos resultados apresentados durante a gestão do governador Jaques Wagner e dos desafios a serem superados pela atual metodologia utilizada. Em seguida foi composta a mesa com a diretora de cultura Joana Darte, seu pai – ex-prefeito José Emídio, o Zé do Sertão – o secretário de educação, prof. José Quelton, o secretário de agricultura José Guerra, a vereadora Ana Dalva, o diretor de esportes José Sales, este blogueiro, o presidente da Associação da Maçaranduba, José Pereira, e outros. A abertura foi feita pelo Vice-Prefeito José Gama Neves, representando o titular da administração municipal. Em seguida, após alguns pronunciamentos burocráticos, foi decretado o intervalo para o almoço. Pela tarde, os pronunciamentos continuaram e o encerramento se deu a 16 horas.
 Quando cheguei à Câmara Municipal percebi que o público não era bom. Para dizer a verdade, sofrível. O tema cultura nunca foi um atrativo em Heliópolis, mas as autoridades estão contribuindo para sepultá-lo. Não se pode lamentar a ausência do público quando o prefeito e a maioria dos secretários não comparecem. E isso num dia de sábado. Não precisava ficar lá o dia todo, mas marcar presença, dar o incentivo necessário. Além disso, pareciam peixes fora da água. O próprio Zé do Sertão deve ter ficado triste porque, na época em que ele era prefeito, apesar dos inúmeros erros cometidos, estavam lá grupos folclóricos, músicos de Heliópolis e de fora do estado. Até mesmo na conferência do ano passado, sob a direção do ex-vice prefeito Clóvis de Dulce, embora também um fracasso, houve apresentação de grupo teatral e música. Não se pode esconder o sol com a peneira. O fracasso da III Conferência de Cultura é fruto do fracasso das anteriores, do fracasso da administração municipal, da incompetência dos seus dirigentes e do pouco caso que estamos dando à cultura como um todo. Pode até servir para buscar recursos, mas não para programar um desenvolvimento focado na melhoria da qualidade da nossa produção cultural. Uma cidade que viu Helvécio Santana morrer sem ter produzido um CD do mais importante músico da nossa história, e assistiu Alaelson do Acordeon vender sua sanfona para honrar compromissos, por não ter recebido pagamento das apresentações do São Pedro, não pode dizer que valoriza a cultura em época nenhuma.
Todos os dirigentes anteriores fracassaram porque nunca tiveram como objetivo o real desenvolvimento cultural das pessoas e da sociedade. É duro ouvir a verdade de que estamos apenas seguindo uma cartilha dos governos superiores para angariarmos recursos e usá-los em mecanismos que nos garantam continuar no poder. O objetivo é a manutenção das posições políticas. É continuar no “trono do apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar.”. É vegetar! Passar por uma vida apenas para suprir o estômago e os prazeres e, se possível, ainda ser ovacionado pelos cegos de visão futura. Querem provas? Onde estavam os nossos músicos, as mulheres que fazem artesanato, os estudantes e professores que escrevem, as cantoras de ladainhas, os dançarinos de quadrilhas juninas, os atores de teatro amador, os cordelistas, os cantadores de Reis do Tijuco, os sanfoneiros, as bandas de pífanos? Na plateia quase só se via funcionários públicos. Apesar do esforço do vice-prefeito de tentar animar a gestão, a coisa estava mais parecendo um velório. Além disso, o tom burocrático acentuou o fracasso. Conferência é debate e temos que estar abertos a receber críticas, mesmo que elas venham de um blogueiro indesejável.