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Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

Assim nasce um Coronel


A posse dos vereadores da Câmara Municipal de Heliópolis foi uma cortina de fumaça que teve a função incontestável de esconder os verdadeiros acontecimentos da política deste município.
1 - Tudo começou com a novela Gaminha, o retorno, se é que o vereador tenha saído algum dia do grupo dos pardais. Impossibilitado de eleger o presidente da câmara, em conversa com o grupo, Zé do Sertão foi convencido de que deveríamos apoiar alguém do grupo do prefeito eleito que tivesse um maior campo de diálogo com a oposição. Já que era para renovar, todas as raposas velhas seriam eliminadas da possibilidade de assumir a presidência. Restavam os vereadores Claudivan e Giomar do Laboratório. O nome de Claudivan foi imediatamente vetado porque é uma espécie de Mendonça II. Não tem independência para remar o legislativo municipal. Única alternativa: Giomar. No mês de novembro, em Aracaju, mantive contato com Henrique, dono do Laboratório Diaclin e coloquei a proposta a pedido de Zé do Sertão. Ana Dalva logo soube e apoiou a idéia, já que não votaria nem em Gaminha ou Renilson. Naudinha imediatamente concordou. Faltavam Valdelício e Clóvis.
2 – Sabendo que Valdelício poderia votar em qualquer um, já que não faz questão de nada, Zé do Sertão o colocou como articulador da candidatura de Giomar. Ele ficaria encarregado de convencer Clóvis Pereira. Segundo Giomar, Clóvis era o único problema. Começaram então as articulações.
3 – A primeira condição imposta para se apoiar Giomar era que ele fizesse valer o Regimento Interno da Câmara. Outra exigência era que respeitasse os direitos da oposição. Sabia-se que Giomar jamais romperia com Valtinho, mas também sabíamos que os pardais não dariam confiança a Giomar. A cúpula pardalesca não confia numa proposta nova. São conservadores demais para isso. E para não dizer que estávamos preocupados com cargos, ele estaria livre para compor a sua chapa com quem quisesse.
4 – O que deu errado? O erro chama-se Clóvis Pereira. Mais uma vez a negociata superou a política, o novo foi sufocado pelos velhos vícios da política heliopolitana. Reparem: um grupo se dispõe a apoiar um candidato de um outro grupo e este candidato que recebe apoio é anulado pelo seu próprio grupo. Para isso, convoca-se o poder do dinheiro. Clóvis Pereira mancha sua história, joga lama no ventilador de sua própria vida, desonra o nome de uma das famílias mais exemplares e católicas do município de Heliópolis. Vai se juntar a Marcelo Evangelista, Manoel Rodrigues e Gaminha, formando o quatuor monetaríssimus.
5 – Por que Giomar não pode ser Presidente da Câmara Municipal de Heliópolis? Quais as razões? Esta coisa dita por Valtinho a uma emissora de que o nome de Mendonça como candidato único era porque ele era o melhor nome não passa de proselitismo político. Mendonça foi candidato único porque a oposição não poderia lançar uma chapa, já que só restavam agora três nomes: Ana Dalva, Naudinha e Valdelício. Mais: Ana Dalva chegou a propor a construção de uma chapa com um nome deles, mas não quiseram. Mendonça foi imposto pela cúpula pardalesca. Queria os seis votos e os teve. A oposição votou toda em branco.
6 – Mas por que mesmo Giomar não poderia ser o Presidente da Câmara Municipal de Heliópolis? Ora, ora, pois! Estava sendo apoiado pelo grupo Bem-te-vi e isso seria uma desmoralização. Nada disso! Era só todos apoiarem e anularia toda articulação da oposição. Seria a unanimidade e o prefeito continuaria com sua hegemonia na câmara.
7 – Quem matou a charada foi Ana Dalva. Não querem Giomar na presidência porque os processos eleitorais ainda estão tramitando. Imaginem uma decisão pela anulação do pleito? Quem assumiria a prefeitura? O todo poderoso presidente da Câmara! Hoje, o cunhado do Prefeito Municipal, sr. José Mendonça Dantas. Para Giomar sobrou a Secretaria da Câmara, para Renilson a Vice-Presidência e para Gaminha a Tesouraria. Só para ilustrar, no outro dia, o helicóptero que trouxe o deputado Álvaro Gomes à posse de Valtinho foi objeto de um fato curioso. O Deputado convidou o prefeito para uma sobrevôo pelo município. Valtinho aceitaria, desde que o vice-prefeito Zé Guerra também fosse. Em caso de acidente, o presidente da Câmara era Mendonça. Prevenção!
8 – Ainda na posse dos vereadores, uma turma já estava preparada para ovacionar o Vereador Mendonça, o mais aplaudido da manhã. Foi mais claqueado até que o prefeito. A mesma turma que o aplaudiu, vaiou a vereadora Naudinha. Pura pirraça. Puro marketing para esconder o nascimento do mais novo coronel da política regional. Está fazendo tudo o que quer, mesmo operado de uma apendicite. Cabelo, barba, bigode, cavanhaque, virilha. Menos as pernas. Estas só Lázaro as faz.
9 – Na parte da manhã, também chamou atenção o discurso da vereadora Ana Dalva, do PPS. Ela mandou um recado firme aos seus opositores. "Tirem o ódio do caminho que eu quero passar com minha esperança". Veja-o integralmente neste blog.
10 – Quem é capaz de deter o poder de Mendonça? Ele parece concentrar nele todas as decisões! E Valtinho? É o único com currículo suficiente para frear o cunhado. Pelo menos isso ele deixou bem claro no discurso de posse. "Não serei manipulado por ninguém." Está claro que Valtinho tem apreço por Mendonça, mas será que vai engolir a mentalidade conservadora do cunhado? Será que a 1ª dama, professora Elza, tão consciente de suas atitudes, vai estragar um futuro promissor do marido na política, deixando-o mergulhar nas águas turvas do mandonismo tradicional? Este blogueiro acredita que, pelo discurso da posse e pelo partido que representa, Valter Almeida Rosário vai ser o dono das suas ações e vai ser o grande comandante dos pardais. O problema é que, ultimamente, os discursos estão servindo apenas como lenitivo das esperas. Só um tempo depois é que a gente percebe que nada mudará e que Valtinho, mesmo com a foice e o martelo, será água de um mesmo rio que busca as águas do mar.

Discurso de posse da vereadora Ana Dalva


Saúdo os colegas do parlamento municipal, autoridades do governo que saem e autoridades do governo que entram. Meus senhores, minhas senhoras, meus familiares e, principalmente, meus 408 amigos que me garantiram esta vaga na Câmara Municipal.
Agradeço de coração aos que votaram três vezes para que este sonho virasse realidade. E para honrar tanta confiança procurarei ser a exata medida daquilo que esperam de mim. Para isso, não esquecerei quem sou, de onde vim e aonde quero chegar. O meu nome é Ana Dalva Batista Reis. Sou filha de Júlio Reis e Ana Batista. Nasci no povoado Farmácia. Sou baiana de Heliópolis. Sou mulher e mãe. Só Deus pode mudar isso que sou. Hoje, sou vereadora eleita pelo PPS. Vereadora por 4 anos. O cargo é temporário. Ele não pode ser superior à minha condição de mãe, de mulher, de heliopolitana. Digo isso porque há pessoas que colocam o cargo como fim último das coisas. Eu sou mãe, mas estou vereadora. Eu sou filha de Heliópolis, mas estou exercendo temporariamente um cargo de vereadora. Meu comportamento tem que ser medido pela história da minha vida e não pelo eventual desempenho no cargo.
Esta casa já foi palco de muitos debates. Ainda bem. É assim que deve ser. E quanto melhor o nível, melhor para a cidade. Cada pessoa aqui presente deve se sentir representada em cada assento nesta casa. Espero que a representação tenha a ver com a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Se o debate for pautado na vida particular das pessoas ou numa discussão de torcida organizada de passarinhos, não evoluiremos. Farei o possível para ser protagonista de um parlamento que debata idéias que sirvam para melhorar a vida das pessoas. Quero ver crianças com saúde indo para escola aprender. Quero ver o funcionário público satisfeito com seu salário e atendendo bem as pessoas. Quero poder desfilar pelas ruas sem pisar em lama ou esgoto. Quero ver o trabalhador sorrindo ao lado de sua esposa, feliz porque seu filho vai estudar numa universidade. Quero ver uma pessoa sorrindo por ter saúde, por estar bem alimentada, indo para igrejas e templos para agradecer a Deus a dádiva recebida. Quero ver o agricultor sorrindo a safra conseguida do seu suor com a ajuda das instituições públicas e divinas. Por fim, quero ver Heliópolis colocando em prática sua vocação de ser grande, progressista e liberta. São sonhos possíveis. Quero ajudar a torná-los práticos. Sei que não é fácil depois dos exemplos dados no último pleito. Vi pai expulsar filho de casa, vi separação de casais, vi ameaças de morte e vi o pior de todas as coisas numa eleição: vi pessoas sendo negociadas como sabão em pó, farinha ou boi na pesagem. E o objeto do desejo era o voto. O voto que garantiu a vitória de uns e a derrota de outros. O voto no balcão dos negócios desgraçando e manchando o futuro desta terra. Enquanto a eleição municipal for decidida pelos grandes empresários, comerciantes ou ciganos endieirados, meus sonhos continuarão apenas como sonhos. Tudo isso ainda acontece porque Heliópolis não é ainda a prioridade da política. Precisamos debater Heliópolis e não cifras, dinheiro, apostas, negócios. Precisamos preparar o município para os nossos filhos e netos, para o futuro.
Portanto, senhoras e senhores, meu caminho está projetado. Sei o que quero. Minha atuação aqui nesta casa terá um norte. Enquanto esta casa for a voz dos oprimidos, dos perseguidos, dos que trabalham, dos que sentem fome, sede e frio, dos que desejam um mundo melhor, eu estarei contribuindo para que ela seja uma casa de excelência. Aproveitando aqui a oportunidade, quero tranqüilizar o futuro prefeito, Sr. Valter Almeida Rosário. Serei nesta casa uma vereadora de oposição, mas não farei oposição a Heliópolis. Se o senhor não mudar a história, sei que haverá projetos bons para minha terra. Estarei pronta para emendá-los, corrigi-los e aprová-los. Não precisa nem pedir ou mandar recado. Quero o melhor para o município. Também quero reciprocidade. Quando aqui apresentar um projeto em benefício da cidade, quero o apoio de todos. Agora, serei implacavelmente contra perseguição a funcionários, achatamento salarial dos servidores, caixa dois, superfaturamento de obras, em suma, todas as formas de corrupção que possam enlamear a administração pública e impedir o crescimento da nossa cidade. Torço para que estas coisas não aconteçam e que a resolução dos inúmeros problemas que enfrentamos seja uma meta.
Por fim, avisamos aos colegas deste parlamento que estaremos 4 anos juntos. É muito tempo para uma convivência pacífica. Respeitemos uns aos outros. A minha atuação será regimental e pautada na ética. Quero reciprocidade.
Aos funcionários municipais deixo a certeza de que estarei aqui para lutar pelos direitos de cada um. Se a missão for grande demais, gritarei e farei com que minha voz e este mandato cheguem a cada canto onde se possa fazer justiça.
Aos meus eleitores, amigos e simpatizantes. Estou aqui por vocês, para vocês e com vocês. Não importa a causa, lutaremos sempre e iremos aonde houver um lugar onde a palavra que impera seja resolução. Farei o possível para exercer um mandato digno, honrado, representativo.
Aos que lutaram bravamente para que aqui eu não chegasse. Aos que gastaram dinheiro contra a minha candidatura. Aos que me ameaçaram. Aos que vivem engolindo todos os dias o veneno que querem que eu beba. Aos que me detestam sem motivo. Aos exploradores de consciências, aos corruptos, aos salafrários, aos desumanos, aos incoerentes, aos preguiçosos, aos impostores... Um aviso curto e grosso: Eu estou só começando. Tirem do caminho o ódio que eu quero passar com a esperança de um futuro melhor!
Muito Obrigada!